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CORONEL FRANCISCO CASADO DE LIMA: MEU TATARAVÔ PERNAMBUCANO


 Por José Aluísio Botelho

O coronel Francisco Casado de Lima nasceu na freguesia de São Pedro Gonçalves, vila de Santo Antonio do Recife em 1765. Único filho de outro Francisco Casado de Lima, natural de Sirinhaém, e de Rosa Maria da Conceição, natural do Recife. Vide imagens de batismo do coronel e o do casamento dos seus pais: 
Certidões
Era descendente dos Viscondes de Vila Nova de Cerveira e dos Condes de Castro Daire, em Ponte Lima, norte de Portugal, portanto, inserido na nobreza portuguesa. Foi homem de grande fortuna: herdou de seu pai o engenho Novo Cucaú e uma sesmaria em São José dos Bezerros, termo de Sirinhaém, e possuiu inúmeras outras propriedades em Sirinhaém, Rio Formoso e no Recife. Em 1776, aos doze anos, solicitou habilitação para familiar do Santo Ofício da Inquisição, encerrado em 1788 (Torre do Tombo, Lisboa). Aos 13 anos (pasmem) foi considerado habilitado para exercer o “emprego". Segundo a pesquisadora Zilda Fonseca, não existe nenhum registro de denunciações ao tribunal por ele praticadas. Obteve a patente de Coronel de Conquistas do termo da vila de Sirinhaém em 1798, bem como o Hábito de Cristo em 1808. Fundou os engenhos Cavalheiro e Jangadinha, em terras onde hoje é o município de Jaboatão dos Guararapes, e lá viveu toda a sua vida. Segundo tradição oral da família, o nome Cavalheiro advém do fato ter sido ele um homem de fino trato, educado, portanto, um cavalheiro, principalmente, acrescento, com as mulheres. Parece não ter se interessado pela política, pois não ocupou cargos públicos, e tampouco cargos eletivos, a despeito do primo Pedro de Araújo Lima que se tornou Grande do Império agraciado com o título de Marquês de Olinda. Casou já no final dos setecentos com Maria da Conceição Cavalcanti, nascida em 1767, e falecida no Recife em 1817 aos 50 anos. Desse casamento não houve filhos. O coronel Francisco Casado de Lima faleceu em 1855 com 90 anos (Diário de Pernambuco, 21/10/1883, edição 243). Pois, bem! Se do legítimo casamento não houve filhos, tratou o coronel de obtê-los em outros úteros, gerando sete filhos legitimados em três mulheres distintas, mesmo na vigência de seu casamento. Conforme processo de legitimação requerido junto ao rei D. João VI, em 1820, já viúvo, o coronel Francisco Casado de Lima, pede a Sua Alteza, o reconhecimento de seus filhos, com a justificativa de não ter tido filhos do matrimônio, nem herdeiros ascendentes, por serem falecidos seus pais e avós, reconhece aos sobreditos como legítimos, conforme escritura de perfilhação, recorre a Vossa majestade haver por bem se dignar mandar-lhe passar Carta de Perfilhação, para serem reconhecidos como legitimados e poderem suceder ao suplicante. O rei mandou que fossem passadas Cartas de Legitimação a todos os filhos arrolados no processo. Um parêntese: além dos sete filhos legitimados, ele teve mais um filho conhecido, o advogado José Norberto Casado de Lima, tabelião em Barreiros, PE, nomeado por D. Pedro II em 1846. O coronel parece ter sido um pai presente e dedicado, patrocinando seus estudos, e aquinhoando-os com bens de seu rico patrimônio:
Cândido José Casado de Lima (1812-1880) formou em medicina pela Universidade de Montpellier, onde defendeu tese sobre erupções cutâneas, "Essai sur les Dartres" (Ensaio sobre a Sarna), no dia 15 de julho de 1837. Foi lente de Francês no curso anexo à Faculdade de Direito do Recife, e publicou um compêndio de gramática francesa. Viveu entre Oeiras no Piauí, onde casou e o Recife, onde exerceu a medicina; teve 14 filhos, quase todos com sucessão. Clara Izabel de Lima (1795-1826) casou com Antônio de Souza Cirne, português natural da freguesia de São Cristóvão de Nogueira, Município de Cinfães, distrito de Viseu, e deu um neto ilustre ao coronel, Francisco de Souza Cirne Lima (09/09/1824-11/01/1887), futuro barão, que ficando órfão, foi tutelado pelo avô materno.                                                      
Batismo Francisco de Sousa Cirne
 Formou em direito na Faculdade de Direito de Olinda, exercendo as funções de juiz em várias regiões do Brasil. Foi agraciado com o título de Barão de Santa Cândida, pelo rei Dom Luís, de Portugal em 1882. O porquê da concessão da honraria pelo rei de Portugal, e não pelo Imperador do Brasil ainda é obscura, provavelmente adquirido pecuniariamente, até porque, o governo do rei Dom Luís, assim procedeu para revigorar o caixa, que pagava a gastança da combalida nobreza portuguesa. Deixou descendência no Rio Grande do Sul, a família Cirne Lima. Por fim, a filha predileta, Martinha Margarida de Lima, que segundo tradição oral da família, estudou nos melhores colégios do Recife, andava ricamente ornamentada, transportada em “cadeirinha de arruar”, carregada por escravos robustos, pelas ruas da cidade. Casou em 1832, com seu primo em segundo grau, Francisco Casado da Fonseca, na Matriz do Santíssimo Sacramento do Recife, dando origem a família Fonseca Lima.
                                                        Casamento de Martinha Margarida de Lima
 Dentre as propriedades herdadas do pai e sogro, foram proprietários dos engenhos Jangadinha, Guarani e Cavalheiro Novo, situados na freguesia de Afogados, termo do Recife, onde batizaram seus oito filhos que atingiram a vida adulta, todos com sucessões. Martinha faleceu aos 92 anos em 1907. Seu marido faleceu aos 84 anos, em 1887, no seu engenho Jangadinha.
Um dos filhos do casal, Dr. Caetano Alberto da Fonseca Lima, formado em direito pela Faculdade de Olinda em 1871, fundou o ramo mineiro da família. Em 1873 foi nomeado Promotor em Russas no Ceará, onde permaneceu até 1875, quando solicitou sua remoção para Paracatu, Minas Gerais. Subindo o rio São Francisco em barco a vapor, apeou no porto Buriti, e de lá arribou em Paracatu, onde tomou posse como Juiz Municipal e de Órfãos. Casou com Dona Maria da Glória Pimentel Loureiro Gomes, filha do tenente Antônio Loureiro Gomes e de Zenóbia Pimentel Barbosa. O casal teve quatro filhos, Francisco Alberto, Julieta Margarida, Antônio e Idalina Cândida. Antonio e Julieta faleceram solteiros, sem filhos; Francisco Alberto da Fonseca Lima casou com Ermelinda de Siqueira Torres, com geração; Idalina Cândida Lima Botelho, por seu casamento com seu primo José Jacinto (Juca) Botelho, teve doze filhos que atingiram a vida adulta com sucessão, exceto um deles.
Concluindo, a descendência do coronel Francisco casado de Lima já no século dezenove é enorme, se espalhando por todo o Nordeste, bem como por outras regiões do Brasil. Enfim, foi um grande, generoso, e esparramado genearca.
Fontes:
1 - Fonseca, Zilda: Os desbravadores da Capitania de Pernambuco, Seus Descendentes, Suas Sesmarias, 2003, Editora Universitária, UFPE.
2 - Livros paroquiais da matriz do Santíssimo Sacramento do Recife - familysearch.org.
Texto postado em agosto de 2011. Atualizado em setembro de 2016. Atualizado com correções em julho de 2017.

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