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OS ( FRANCISCO ) SANTIAGO



Por José Aluísio Botelho


DE PORTUGAL, À SÃO JOSÉ DO TOCANTINS E À PARACATU
Em São José do Tocantins (Niquelândia)
Família de origem portuguesa, estabelecida em Goiás. Os portugueses vindos para as minas de Goiás provinham em sua maioria da decadente província vinhateira do bispado do Porto, norte de Portugal. Eram desempregados, jovens, solteiros, dispostos a fazer fortuna nas minas goianas. Naquele tempo sobressaíam os arraiais de Traíras e de São José do Tocantins (Niquelândia desde 1943), dos mais opulentos da capitania, ricos em lavras minerais, o que atraiu o jovem português Antônio Francisco Santiago, nascido em 09/11/1756, natural da freguesia de São Pedro Cesar, Concelho de Oliveira de Azeméis, distrito de Aveiro, Bispado do Porto, filho de Francisco Antônio Santiago e de Helena Maria de Jesus, naturais dali; neto paterno de Antônio Santiago e de Ana Rodrigues, da freguesia de Guisande, Santa Maria da Feira, Aveiro; neto materno de Domingos Jorge e de Maria Fernandes, do lugar de Pinheiro, freguesia de São Pedro de César.

Batismo - Antônio Francisco Santiago
Em São José do Tocantins, ele criaria raízes ao se casar em 1796, na igreja Matriz de São José, com a goiana Áurea Mariana dos Anjos, natural do lugar, filha de Marcelino de Souza Gomes e de Ana Barbosa. Em 1798, obteve a patente de furriel e ocupava a posição de procurador da opulenta Irmandade Senhor dos Passos, a mais importante do arraial de São José do Tocantins, o que demonstra estar ele integrado à comunidade local, inserido entre os homens bons do lugar. O casal teve cinco filhos descobertos, ali batizados, a saber:
1 – Manuel Francisco Santiago;
2 – Maria Francisca Santiago;
3 – Joaquim Francisco Santiago;
4 – José Francisco Santiago;
5 – Ana Antônia Santiago.
Em 1820, ocorre o casamento simultâneo das filhas Maria Francisca e Ana, respectivamente com o português José Ribeiro, minerador na região do Pilar, e com Alexandre Loureiro Gomes, natural de Vila Boa (Goiás Velho). Nessa ocasião, o Alferes Antônio Francisco Santiago já não vivia, porém, não descobrimos a data de sua morte. Sua viúva iria se casar novamente com o rico português coronel Antônio Caetano da Fonseca, falecido em 1830, sem descendência. Dona Áurea, descendente dos índios Caiapós, segundo tradição avoenga, morreria em 1843.
Não sabemos as datas dos casamentos dos filhos varões, sendo que um deles, Joaquim Francisco Santiago, consagrou-se padre, mas deixaria descendentes, como veremos adiante.
O capitão José Francisco Santiago casou-se com Ana Bernarda Rabelo, fez testamento em 1845, mas não descobrimos sua descendência.
O capitão Manuel Francisco Santiago foi um dos homens proeminentes da vila em seu tempo, ocupando lugar de destaque na vida política e social de São José do Tocantins a partir de 1833, ocasião da elevação do arraial à vila. Neste ano, obteve a patente de capitão e foi eleito vereador da primeira Câmara da recém-criada vila. Comandou uma guarnição da Guarda Nacional na vila de Traíras que logo desapareceria do mapa de Goiás, tamanha era sua decadência. Foi promotor e juiz de paz, bem como presidente da câmara entre 1836 e 1841, sendo eleito novamente vereador entre 1841 e 1845. Em 1857, já era falecido, pelo que se deduz ao examinar os Registrantes de terras na Matriz de São José, quando sua fazenda Santo Antônio do Nirva foi registrada pelos seus herdeiros. Parece ter casado com uma senhora da família Souza, tendo pelos menos quatro filhos descobertos:
1 – Antônio Francisco Santiago, inventariado em 1853;
2 – Francisco de Souza Santiago ocupou cargos na governança até o final do século XIX;
3 – João Francisco Santiago, que teve uma neta, Izabel, casada com o coronel José Joaquim Taveira, mandachuva de São José nas primeiras décadas do século vinte;
4 – Francisca de Souza Santiago casou por volta de 1846, com o jovem e rico José Joaquim Francisco da Silva, natural de Cavalcante, Goiás. José Joaquim Francisco da Silva iria se tornar a maior fortuna e liderança política do atual norte de Goiás na segunda metade do século XIX. Retratado pelos seus adversários como o “terror do norte”, coronel e Comandante-geral da Guarda Nacional da Comarca dos rios das Almas e Maranhão, mestre da maçonaria de São José do Tocantins, controlava com mão de ferro a opulenta e lucrativa Irmandade do Muquém, e proprietário de imenso latifúndio, que segundo alguns, tinha 3000 km² de extensão. Afora os exageros, foi o maior possuidor de terras do norte goiano, grande comerciante e senhor absoluto do poder em São José do Tocantins (Niquelândia). Faleceu em 1896. O casal teve filho único, o coronel Paulo Francisco da Silva, que herdou todo o prestígio político e a fortuna de seu pai. Comandou a política local até a segunda década do século vinte, sendo diversas vezes intendente de São José. Aliou-se aos Taveira por casamento com Teodolina Josefa Taveira, e aos Curados ao se tornar genro do Major Delfino Curado, natural de Santa Luzia, atual Luziânia.
O reverendo padre Joaquim Francisco Santiago seria o derradeiro filho varão do alferes Antônio Francisco Santiago. Dele descobrimos ter sido secretário da primeira Câmara de São José do Tocantins, e posteriormente juiz de paz na mesma legislatura. Foi nomeado vigário colado do arraial de Flores de Goiás, localizada no vão do rio Paranã, distrito de Sítio D’Abadia, e lá, como quase todos os padres de seu tempo, constituiu família e teve filhos. Faleceu em 1853. Com Desidéria Pereira Cardoso, filha de Maria Teixeira de Carvalho e pai incógnito, teve pelo menos cinco filhos naturais, descobertos, nascidos em Flores de Goiás:
1 – Daniel Francisco Santiago; sem mais notícias;
2 – Tertuliano Francisco Santiago; sem mais notícias;
3 - Ignez Francisco Santiago, sem mais notícias;
4 – Antônio Francisco Santiago, homem abastado, falecido em 21/01/1891 em Paracatu; comerciante, foi vereador em Paracatu entre 1883 e 1889, deixou várias fazendas em Flores, Formosa, Cavalcante e Posse, todas em Goiás; casado com Ana Rosa Carolina da Silva, filha de Regina Carolina da Silva, ambas herdeiras de seu vasto patrimônio; o casal não deixou descendentes;
5 – Joaquina Francisca Santiago (uma das herdeiras de seu irmão Antônio), que segue;
Joaquina Francisca Santiago casou-se em Flores de Goiás com Gregório de Moura Telles, provavelmente filho do coronel Félix de Moura Telles e neto do português Manuel Antônio de Moura Telles, falecido em Cavalcante, em 1832. Esse Manoel Antônio de Moura Telles participou ativamente da criação da Comarca de São João das Duas Barras (Comarca do Norte), um movimento separatista embrião do atual estado do Tocantins, reivindicado pelos moradores dos arraiais de Cavalcante, Arraias, Flores, Traíras e São José, principalmente. Tiveram os filhos:
1 - Joaquim de Moura Santiago, que segue;
2 – Hemetério de Moura Santiago;
3 – Amélia de Moura Santiago, que segue;
Em Paracatu
O primeiro do sobrenome a chegar a Paracatu foi Dona Ana Antônia Santiago, acompanhando seu marido, o major Alexandre Loureiro Gomes, que lá se fixou, adquirindo propriedade agrícola no município, em meados do século XIX. O filho único do casal, tenente Antônio Loureiro Gomes, casaria logo depois com uma filha do Comendador Joaquim Pimentel Barbosa, com numerosa descendência (veja o artigo sobre os Loureiro Gomes neste Blog). Com o casal acima, provavelmente, veio seu sobrinho Antônio Francisco Santiago, falecido em 1891, sem descendentes.
Por fim, (1) Joaquim de Moura Santiago e (2) Amélia Santiago Chaves, sobrinhos-netos de D. Ana Antônia Santiago, chegam a Paracatu no final do século dezenove. Joaquim de Moura Santiago se estabelece com comércio na cidade, fundando a Casa Santiago. Sô Quim Santiago, como seria conhecido durante toda a sua vida, casou-se com Adelaide Avelino Pereira de Castro (1877 - 1961), dos Pereira de Castro, pioneiros do ouro de 1744. No alvorecer do século XX, o casal batiza em Paracatu, uma nova geração, a saber:
1 – Antero de Moura Santiago;
2 - João de Moura Santiago, 1902-1976;
3 – Joaquim de Moura Santiago Filho, 1904-1946;
4 – Pedro de Moura Santiago, 1905-1978;
5 – Miguel Teles Santiago;
6 – Anita de Moura Santiago,1908 -1968;
7 – Dulce de Moura Santiago;
8 – Moacir de Moura Santiago,1913 - 1957;
9 – Ana Joaquina de Moura Santiago;
10 – Julieta de Moura Santiago;
11 – Gregório de Moura Telles Santiago.
Sô Quim Santiago faleceu aos 75 anos em 19/02/1955, em Belo Horizonte.
(2) Dona Amélia Santiago Chaves, falecida em Paracatu aos 12/02/1927, foi casada com seu conterrâneo Olivério Chaves; adquirem casa de morada em Paracatu, onde o Sr. Olivério estabeleceu casa de comércio. Esse casal amealhou considerável patrimônio deixado aos quatro filhos:
2.1 Maria José Chaves, com 21 anos em 1927;
2.2 Maria Conceição Chaves, com 19 anos em 1927;
2.3 Maria Jacinta Chaves, com 17 anos em 1927; foi casada com Pedro Rocha (veja 'Os Rocha de Água Branca');
2.4 José Jacinto Chaves, com 13 anos em 1927, tornou-se importante fazendeiro e boiadeiro na região; foi casado com Olga Adjuto Botelho, filha do coronel Osório Jacinto da Silva Botelho e de Maria Carneiro Adjuto Botelho.
Nota: O patronímico “Francisco” parece ser nome de família (sobrenome), já que aparece recorrentemente nos nomes dos descendentes, tanto em Portugal, como no Brasil. No Brasil, além de Goiás, encontramos a família “Francisco Santiago” em Pernambuco e no Piauí.
Por se tratar de uma obra de genealogia, estará sujeita à atualização com correções e acréscimos.

Atualizado em 23 de janeiro de 2025.

Fontes:
1 - Bertran, Paulo - História de Niquelândia, 2ª edição,
Verano Editora, 1998;
2 – Salazar, Gastão – Obra manuscrita;
3 – Arquivo do autor. 
Maio de 2011. 

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