Pular para o conteúdo principal

FAZENDAS ANTIGAS, SEUS DONOS E HERDEIROS EM PARACATU - 1854 E 1857.

Por José Aluísio Botelho

               A LEI DE TERRAS DE 1850
Desde a independência do Brasil, tanto o governo imperial, como os governos republicanos apresentaram inúmeros projetos legislativos na tentativa de resolver a questão fundiária no Brasil, bem como regularizar as ocupações de terras no Brasil. A lei da terra de 1850 foi importante porque a terra deixou de ser um privilégio e passou a ser encarada como uma mercadoria capaz de gerar lucros. O objetivo principal era corrigir os erros do período colonial nas concessões de sesmarias. Além da regularização territorial, o governo estava preocupado em promover de forma satisfatória as imigrações, de maneira a substituir gradativamente a mão de obra escrava. A lei de 1850, regulamentada em 1854, exigia que todos os proprietários providenciassem os registros de suas terras, nas paróquias municipais. Essa lei, porém, fracassou como as anteriores, porque poucas sesmarias ou posses foram legitimadas, e as terras continuaram a serem adquiridas sem o controle do estado, e ao arrepio da lei, através de documentação forjadas. Outro fator que levou ao fracasso da aplicação da lei foi o desinteresse das elites dominantes, políticas e econômicas, constituídas em sua maioria por fazendeiros, confirmando a tradição latifundiária do Brasil. Em Paracatu, houve uma corrida dos donos e ocupantes de terra no município, junto ao Registro Paroquial de Terras da Matriz de Santo Antônio, cujo responsável era o vigário Miguel Arcanjo Tôrres. A leitura atenta do livro de registros paroquiais entre 1854 e 1857, evidencia a presença de grandes proprietários, cuja posse da terra vinha desde os tempos coloniais e dos descobertos do ouro, bem como a fragmentação de grandes propriedades em glebas apossadas pelos herdeiros, e por terceiros adquirentes dos direitos destes mesmos herdeiros. A falta de registros e de titulação das terras é evidente, o que comprova o fracasso da lei. Apresentamos abaixo uma relação de alguns proprietários com sobrenome de famílias mais conhecidas até os dias atuais, e as respectivas fazendas ou glebas. A lista é enorme, e embora as folhas do livro estejam desordenadas dificultando a pesquisa, é possível realizar a leitura dos documentos. Os interessados em mais detalhes como a localização e divisas, extensão, etc. poderão consultar o livro no site do Arquivo Público Mineiro, no link disponibilizado no final deste artigo.
 - Ana Antônia Santiago (Loureiro) – senhora e possuidora da fazenda Brocotó, arrematada em juízo; antiga sesmaria que pertenceu ao coronel Teodósio Caetano de Morais e a Domingos José Pimentel Barbosa;
- Antônio Avelino Pereira de Castro – senhor e possuidor da fazenda Santa Rita, com outros herdeiros;
- Antônio Constantino Lopes de Ulhoa – senhor e possuidor da fazenda denominada Lages, de grande extensão, comprada aos seus finados pais;
- Coronel Antônio Dantas Barbosa – senhor e possuidor da fazenda Alferes das Éguas;
- Ana Izabel Carneiro Leão – senhora e possuidora do sítio do Neto (antiga sesmaria), que pertenceu aos seus pais Antônio Neto Carneiro Leão e Ana Maria Lemes;
- Antônio Loureiro Gomes – senhor e possuidor da fazenda Babão;
- Antônio Mendes Santiago – senhor e possuidor da fazenda Escuro Pequeno;
- Antônio Pinheiro da Silva – senhor da fazenda Crioulas;
- Bernardo Belo Soares de Sousa – senhor e possuidor do sítio Moinho, às margens do córrego Rico;
- Benedito Barbosa de Brito – senhor e possuidor da fazenda Taboca;
- Dr. Bernardo de Melo Franco – senhor e possuidor da fazenda Carapinas, às margens do rio Preto;
 - Carlos Firmino Pereira de Castro – senhor e possuidor da fazenda Santo Antônio;
- Caetano Rodrigues Horta – senhor e possuidor da fazenda Buraco;
- Domingos Pereira da Silva e demais herdeiros – possuidores da fazenda Estiva;
- Ten. cel. Domingos Pimentel de Ulhoa – senhor e possuidor da fazenda Santo Antônio, às margens do rio Paracatu, antiga sesmaria que pertenceu ao capitão-mor Domingos José Pimentel Barbosa. Dentro das divisas ficavam os lugares denominados Santo Antônio, Forquilha,, Olhos d’Água, Conceição, etc.;
Possuidor ainda da fazenda Guerra, chácara Batista, bem como de inúmeras glebas de terras em outras fazendas, adquiridas por compra;
- Eugênio Freire de Andrade – senhor da fazenda Carrapato;
- Fernando Pacheco Franco – senhor e possuidor da fazenda Barra da Égua, bem como de outras glebas indivisas;
 - Florinda Rodrigues da Silva – senhora e possuidora das fazendas Patrimônio e Pouso Alegre;
- Francisco Carneiro de Mendonça – senhor e possuidor da fazenda Monjolos no subúrbio da cidade;
- Comendador Francisco de Paula Carneiro de Mendonça – senhor e possuidor da fazenda Trombas, distrito de Buritis, e dos Couros (atual Formosa), província de Goiás, bem como da fazenda Conceição; possuidor de fazendas no distrito dos Alegres e em Patrocínio, Minas Gerais;
- Francisco de Paula Ribeiro – senhor da fazenda Barreirinho no subúrbio da cidade;
- Francisco de Paula e Sousa – senhor dos sítios Soares e Leitão;
- Geraldo Gomes Camacho – senhor da fazenda Cedro;
- Herdeiros de cel. Eduardo Antonio Roquete Franco – fazenda Boa Sorte;
- Herdeiros do ten. cel. Joaquim Antonio Roquete Franco – sítio do Motta e chácara das Posses;
- Herdeiros do cel. Joaquim Pimentel Barbosa – glebas nas fazendas Engenho Velho, Boa Esperança, Buritis, etc.;
- Herdeiros do cel. Messias dos Reis Calçado – fazendas do Tombador, Santo Aurélio, Capão e Gouveia;
- Hermenegildo Francisco de Carvalho (sogro de Joaquim Pinto Brochado) – possuidor da fazenda Vargem Bonita, distrito de Rio Preto;
- Luís de França Pinheiro – senhor e possuidor de glebas nas fazendas Santa Rosa e Bezerra;
- João Alves de Souza – senhor da fazenda Buritis, às margens do rio Paracatu;
- João Baptista da Costa Pinto, e demais herdeiros seus cunhados, senhores das fazendas Barreiro, Boqueirão, Forquilha e Sítio, que pertenceram a Manoel Alves Ribeiro e sua mulher Romana Joaquina de Ulhoa;
- João José de Santana – senhor e possuidor das fazendas Moura, Pereirinha e São Marcos;
- João de Pina e Vasconcelos – senhor e possuidor das fazendas Carvalho e Gravatá;
- João Rodrigues – senhor da fazenda São José (Barra da Égua);
- João Severino Botelho – glebas na fazenda de Estevão de Sousa;
- Joana de Melo Álvares Meireles (viúva de Joaquim Alves Meireles) – senhora de glebas na sesmaria Dona Rosa e Traíras;
- Joaquim de Sá Guimarães – senhor da fazenda Tapera;
- Joaquim de Melo Albuquerque – senhor e possuidor da fazenda Córrego Rico; herdeiro com as irmãs da fazenda São Braz;
- Cel. José Antonio Dantas Barbosa – senhor e possuidor da fazenda Carneiro;
- Dr. José de Melo Franco – senhor e possuidor da fazenda Tapera (distrito de Rio Preto), e uma chácara em São Domingos;
- Ten. José Martins Ferreira – senhor e possuidor das fazendas Cabo, Canabrava (Rio Preto), e São Pedro;
- Josefa Emília Carneiro de Rezende (viúva do major José de Rezende Costa) – senhora e possuidora das fazendas “Fala Verdade”(com escritura passada a José de Rezende Costa em 08/01/1840 comprada aos herdeiros do coronel Antonio da Costa Pinto), Mimoso, São Luiz (São Pedro), Rocha;
- José Severino Botelho – possuidor de glebas nas fazendas Buritis, Santa Izabel, e Escuro;
-José Thomas Pimentel Barbosa - glebas na fazenda Engenho Velho;
- Júlio César Souto – senhor da fazenda Buritis (gleba);
- Justino Batista Roquete Franco – possuidor de fazendas em glebas das sesmarias Santo Antônio e Olhos d’Água da Forquilha;
- Justiniano de Melo Franco – senhor e possuidor da fazenda Bom Sucesso;
- Manoel Alves Ribeiro – senhor e possuidor de fazenda em gleba da fazenda Curral do Fogo;
- Maria Alves Pereira e filhos – possuidores da fazenda Sucuri ou Sicuriú, por compra feita aos finados ten. cel. Sancho Lopes de Ulhoa e sua mulher;
- Maria Bazília Roquete (viúva do Capitão Manoel Pacheco de Carvalho) – senhora e possuidora das fazendas Retiro das Éguas, Capão, Conceição do Mato Grosso, e Bom Sucesso (rio Paracatu);
- Margarida Pimentel Soares de Sousa – senhora do sítio Tapera e de glebas na fazenda Landim;
- Mariana Eufrásia de Jesus (viúva de Ignácio Carneiro de Mendonça) – senhora e possuidora da fazenda as Nascentes das Vazantes;
- Vigário Miguel de Arcanjo Torres – senhor e possuidor da chácara da Água Limpa;
- Manoel Ferreira Albernaz – senhor e possuidor da fazenda da Capetinga;
- Pedro Antônio Gonçalves da Cruz – senhor e possuidor da fazenda Maneta;
- Sabino de Moura Brochado – senhor e possuidor da fazenda Deus me Livre;
- Dr. Teodósio Manoel Soares de Sousa – senhor e possuidor da fazenda (sesmaria) do Landim de Santa Izabel, bem como da fazenda Gado Bravo (distrito de Rio Preto).
Fontes: Arquivo Público Mineiro – www.siaapm.cultura.mg.gov.br >> Documentos públicos >> Repartição especial de terras públicas TP 1854-1877 >> Palavra Chave – Paracatu;
 Artigo – A lei de terras de 1850 e a reafirmação do poder básico do estado sobre a terra. Autor: José Luiz Cavalcante. Revista Histórica, edição de 02 de Junho de 2005. Arquivo Público de SP.
(disponível online)
Brasília, maio de 2012.

Comentários

Postagens mais visitadas

DONA BEJA E AS DUAS MORTES DE MANOEL FERNANDES DE SAMPAIO

Por José Aluísio Botelho A história que contaremos é baseada em fatos, extraídos de um documento oficial relativo a um processo criminal que trata de um assassinato ocorrido na vila de Araxá em 1836. O crime repercutiu no parlamento do império no Rio de Janeiro, provocando debates acalorados entre os opositores do deputado e ex-ministro da justiça, cunhado do acusado, como se verá adiante. Muitos podem perguntar porque um blog especializado em genealogia paracatuense, está a publicar uma crônica fora do contexto? A publicação deste texto no blog se dá por dois motivos relevantes: primeiro, pela importância do documento, ora localizado, para a história de Araxá como contraponto a uma colossal obra de ficção sobre a personagem e o mito Dona Beja, que ultrapassou suas fronteiras se tornando de conhecimento nacional. Em segundo lugar, porque um dos protagonistas de toda a trama na vida real era natural de Paracatu, e, portanto, de interesse para a genealogia paracatuense, membr...

ULHOA - ESBOÇO GENEALÓGICO

Por José Aluísio Botelho FAMÍLIA ULHOA, DO VALE DO ULLA NA GALÍCIA ATÉ PARACATU EM  MINAS GERAIS Para saber mais, leia neste blog :  Coronel Sancho Lopes de Ulhoa e seus descendentes A) - Origem do apelido: do rio ULLA, na Galícia, que passou a ser Ulló (olho), depois Ulloa e hoje Ulhoa. Também provêm do hebraico hurscha (floresta) e/ou de uxna, forma adaptada ou corrompida de Yehoshua. 1) - Dom Férnan Sanches de Ulló, o primeiro Ulhoa de que se tem notícia e que viveu pelos anos de 756, visigodo, dono das terras n o vale do rio Ulla; 2) - Dom Lopo Ruiz de Ulló (1120);    Vale do Rio Ulla by Isidro Cea 3) - Dom Fernão Lopes de Ulló (1212), casado com Maria Martinez; 4) - Dom Lopo Sanches de Ulló, casado com Mayor Gomes de T rastamara; 5) - Dom Sancho Lopes de Ulloa, rico homem galego, primeiro Senhor de Vilamayor de Ulloa (barão), casado com Urraca Perez de Sotomayor; para saber mais: Clique na imagem abaixo para adquirir o livro na Amazon.com Clique aqui p...

GUARDA-MOR JOSÉ RODRIGUES FRÓES

Por José Aluísio Botelho             INTRODUÇÃO  Esse vulto que tamanho destaque merece na história de Paracatu e de  Minas Gerais, ainda precisa ser mais bem estudado. O que se sabe é que habilitou de genere em 1747 (o processo de Aplicação Sacerdotal se encontra arquivado na Arquidiocese de São Paulo), quando ainda era morador nas Minas do Paracatu, e embora fosse comum aos padres de seu tempo, aprece que não deixou descendentes*. Que ele foi o descobridor das minas do córrego Rico e fundador do primitivo arraial de São Luiz e Santana das Minas do Paracatu, não resta nenhuma dúvida. De suas narrativas deduz-se também, que decepcionado com a produtividade das datas minerais que ele escolheu, por direito, para explorar, abandonou sua criatura e acompanhou os irmãos Caldeira Brandt, que tinham assumido através de arrematação o 3º contrato de diamantes, rumo ao distrito diamantino. Documento de prova GENEALOGIA  Fróis/Fróes -...

REIS CALÇADO - UMA FAMÍLIA JUDIA NA PARACATU DO SÉCULO XVIII

Por José Aluísio Botelho  Eduardo Rocha Mauro Cézar da Silv a Neiva   Família miscigenada, de origem cristã nova pela linha agnata originária do Ceará . Pois

FRAGMENTOS DE GENEALOGIAS

Por José Aluísio Botelho Diante da falta quase completa de documentos primários, reunimos indivíduos que viveram nos tempos do arraial e da vila, e que carregavam os sobrenomes transmitidos a descendência, abaixo assinalados: OS LOPES DE OLIVEIRA Nos tempos de arraial Inicia-se a família Lopes de Oliveira, com a presença de Manoel Lopes de Oliveira, já miscigenad a, com a união de Manoel Lopes de Oliveira com Catarina, negra mina; o casal teve um filho nascido nas Minas do Paracatu, que descobrimos: Antônio Lopes de Oliveira, que com Marcelina Ribeira, filha de Francisco Vaz Salgado, natural do Porto, Portugal e de Maria Ribeira, negra mina, continuaram o processo de caldeamento da família com o nascimento de seus filhos; Descobrimos dois filhos nos assentos de batismos do arraial: 1 Tereza, nascida em 18/6/1774 e batizada aos 26 do dito mês e ano; Tereza Lopes de Oliveira, casada ca. 1787 com Custódio Pinto Brandão, com registro de provisão de casamento no Ca...