Presciliana (ou Perciliana) de Siqueira Torres foi mãe solteira na segunda metade dos
oitocentos. Carregava sobrenome de peso, originário no estado de
Alagoas: lá, o sobrenome, tradicional, despontava na figura do
poderoso político alagoano Joaquim Antônio de Siqueira Torres, o barão de Água Branca. Em Paracatu, no mesmo milésimo, viveu um
irmão do Barão, o não menos poderoso chefe da igreja católica na
região, cônego Miguel Arcanjo de Siqueira Torres. Na poeira do
padre, vieram alguns parentes que galgaram projeção social em
Paracatu e alhures como os coronéis, Luiz Vieira de Siqueira Torres e
Antônio de Siqueira Torres, sobrinhos do reverendo. Presciliana nasceu em Paracatu, filha natural de Maria José da Silva e pai incógnito; não se sabe se era aparentada das pessoas
citadas, ou se veio alforriada das senzalas, negra ou miscigenada,
com o sobrenome emprestado de seus antigos senhores,
comum à época, ou até se nasceu livre. Presciliana
foi uma, dentre tantas mulheres que viveram no século
dezenove, vítima do domínio patriarcal e machista vigente à época,
submissa e explorada sexualmente, num tempo em que não havia como
evitar filhos; provavelmente analfabeta, viveu e morreu desconhecida,
sem imaginar que filhos naturais de sua lavra se tornariam homens de
relativa importância na sua área de atuação. Não importa, sua
memória foi eternizada através dos filhos que concebeu.
Seus
três filhos descobertos:
1
Major Jesuíno de Siqueira Torres, o único dos três em que o nome
do pai é conhecido, filho natural que foi do abastado fazendeiro
Teófilo Martins de Melo Franco, de família inconteste.
Ainda
jovem, normalista, foi professor de primeiras letras nas cidades do
Carmo de Paranaíba, Dores do Indaiá e Araguari entre 1892 e 1896. Rico comerciante, com estabelecimento situado na esquina da rua
do Ávila com a atual Samuel Rocha, defronte da Casa da Cultura,
lá pelos idos de 1900, bem como fazendeiro e pecuarista importante,
que muito contribuiu para o progresso de Paracatu. Participou
ativamente da política municipal como membro do Partido Republicano
Popular, fundado em 1909; no judiciário, exerceu o cargo de juiz
municipal interino.
Casou
com dona Flora da Silva Neiva, deixando os filhos:
1.1
Floriano da Silva Neiva;
1.2
Leontina da Silva Neiva, casada com José Gonçalves de Ulhoa, com
descendência nos Silva Neiva, neste 'blog';
1.3 Belísia da Silva Neiva.
1.3 Belísia da Silva Neiva.
2 Alarico
Torres Verano. *Nascido em 1877, aproximadamente, filho de pai incógnito,
casou no final do século dezenove com Carlota de Sousa Gonçalves,
filha de Marcelino de Sousa Gonçalves e de Maria da Conceição
Souto. *(Pesquisa de Eduardo Rocha)
Sobre
Alarico:
Normalista
pela antiga Escola Normal de Paracatu, diplomado em dezembro de 1894;
nomeado professor primário na escola rural do Paiol em junho de 1895
e posteriormente na cidade de Paracatu, onde exerceu o magistério
com afinco durante anos a fio; mudou-se com a família para o estado
de Goiás, e em 1920, é nomeado diretor de um colégio de instrução
primária e secundária em Luziânia. Dali, muda-se para Anápolis, onde se fixa definitivamente. Nesta cidade, o professor Alarico
persistiu no magistério, exercendo as funções de mestre, bem assim
de diretor do grupo escolar municipal. Ao longo da vida, adquiriu
vasta cultura, tornando-se respeitado nos meios intelectuais de
Goiás. Não descobrimos a data de sua morte. O professor Alarico
Torres Verano foi eternizado ao ser homenageado pelo poder público
de Anápolis, dando seu nome a uma rua da cidade.
O filho:
2.1
Osvaldo Torres Verano, nascido em 1908 em Paracatu e falecido em 1986
em Anápolis, Goiás, onde viveu desde criança. Nada sabemos sobre
sua vida pessoal, mas, pontificou-se nas artes plásticas na cidade
de sua adoção.
“Foi
o fundador da primeira escola de artes em Anápolis, para onde veio
bastante jovem e formou vários dos artistas que hoje fazem parte do
panorama cultural da cidade. É considerado o precursor das artes na
cidade. Estudou pintura e desenho no Liceu de Artes e Ofício do Rio
de Janeiro e frequentou a antiga Escola Nacional de Belas Artes,
também no Rio. Obteve várias premiações e menções honrosas em
salões cariocas.
Começou
a pintar aos 12 anos e seu estilo era o acadêmico. Pintava
a natureza, numa expressão de plena beleza e encanto. Morreu em
1986, aos 78 anos. Muito dos bons pintores anapolinos foram
seus alunos na Academia Anapolina de Belas Artes.” (texto extraído
do blog – Museu de Artes Plásticas Loures).
Osvaldo Verano (Reprodução) |
3
Dr. Henrique Itiberê, nasceu em Paracatu em 1.º de maio de 1874, e
aos 18 anos é diplomado normalista pela Escola Normal de Paracatu;
estudou humanidades em Ouro Preto, Barbacena e São Paulo.
Posteriormente ingressou na faculdade de direito do Largo de São
Francisco, formando em 1902. Quando
estudante foi jornalista, editor do jornal de “Itapira”, do
“Minas Geraes”, e diretor do Correio Paulistano até 1902, quando
deixa o cargo para exercer a advocacia, tanto na capital como no
interior do estado de São Paulo; delegado de polícia em Botucatu,
1907; em 1915 retorna à sua cidade natal, onde exerce sua
profissão com regularidade, torna-se colaborador da imprensa local,
e ingressa na política. É eleito, em novembro daquele ano vereador,
e, posteriormente, presidente da Câmara e agente executivo municipal.
Sua plataforma de governo na ocasião: “animar a lavoura; criar
estradas de automóveis ligando Paracatu à Pirapora e Catalão;
estimular a indústria pastoril; cuidar com o mais acurado zelo da
arrecadação das rendas municipais, estabelecendo novos moldes de
equidade e justiça”. Era um período de extrema radicalização na
cidade, e o Dr. Itiberê é deposto 'sic' em janeiro de 1921.
Desgostoso com os acontecimentos políticos de que foi vítima,
retorna a advocacia, e assim como seu irmão, passa com a família
para o estado de Goiás. Neste estado foi juiz de direito da comarca
de Santa Luzia (Luziânia) e Natividade: nesta cidade do extremo
norte goiano, adquire notoriedade ao apaziguar a região, infestada
de jagunços, prendendo e condenado com destemor. Como prêmio, foi
nomeado em 1927, desembargador do Tribunal de Justiça de Goiás,
cargo em que se aposentou do serviço público. Aposentado,
portanto, retorna à advocacia, estabelecendo-se na cidade de Rio Verde,
e lá atribuíram postumamente seu nome a uma rua da cidade. Foi a
última notícia que tivemos do ilustre paracatuense. O Dr. Henrique Itiberê casou em São Paulo, em 1905, aproximadamente, com
dona Julieta Campos Vilela, filha do industrial português Manoel da
Silva Vilela e de Carolina Campos Vilela. Descobrimos dois filhos do
casal:
3.1
Dr. Darcy Vilela Itiberê, nascido em 1/6/1906, morreu centenário;
formado em medicina no Rio de Janeiro, especializado em Urologia, foi
médico conceituado em São Paulo;
Nota:
por ocasião de seu centenário, em entrevista à revista da APM
(Associação Paulista de Medicina) de outubro de 2006, ele omite as
origens paternas;
3.2
Alfredo Vilela Itiberê.
Fontes:
1
Arquivo do autor;
2
Hemeroteca da Biblioteca Nacional do Brasil – Jornais da época
(diversos).
3 Inventário de Félix Pereira da Costa e sua mulher - Arquivo Público de Paracatu.
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