Pular para o conteúdo principal

ALMANAQUE PARACATUENSE

Por José Aluísio Botelho
O MISTERIOSO DR. PARACATU – Em companhia de el-rei D. João VI emigrou para o Brasil um ilustre e velho fidalgo português, morgado de Sá, chamado Francisco Joaquim Moreira de Sá. Esse fidalgo tinha uma grande fazenda em Minas, no lugar intitulado Santo Antônio do Rio Abaixo.
Uma vez chegado ao Brasil, em vez de, como muitos outros, constituir-se pensionista do rei, tratou de retirar – se para lá. Era muito influente no Paço, parente de Ministro e foi altamente recomendado para Minas. Em consequência disso, sua casa tornou – se o ponto de reunião da elite da sociedade mineira de então. Um dos que mais a frequentavam era um cirurgião conhecido pela alcunha de “Paracatu”.
Todos o supunham brasileiro nato, mas nascera em Portugal. Quando o Dr. Cláudio Manoel da Costa, poeta e inconfidente apareceu morto na prisão, foi incumbido de realizar o corpo de delito. Fê-lo conscientemente, declarando que o morto não tinha suicidado, e sim havia sido assassinado.
No dia seguinte foi procurado pelo ajudante de ordens do Capitão General da Capitania, o qual lhe disse que fizesse novo corpo de delito, pois o anterior havia sido inutilizado, e que fosse com outro teor.
O cirurgião Paracatu seguiu o salutar conselho, fez novo corpo de delito declarando que o Dr. Cláudio Manoel da Costa havia suicidado.
(Relato feito pelo próprio Dr. Paracatu a Francisco J. Moreira de Sá).
PS.: na ocasião do exame do corpo do Dr. Cláudio, estavam presentes dois cirurgiões, a saber: Dr. Caetano José Cardoso e Dr. Manoel Fernandes Santiago.
Ficam duas perguntas sem respostas:
Qual deles seria o misterioso Dr. Paracatu?
Qual a relação do apelido com a cidade de Paracatu?
Fonte: Revista do Arquivo Público Mineiro – CD-ROM n°1, 1896.
ÚLTIMA CIDADE TOMADA PELA COLUNA PRESTES – Siqueira Campos passou ao comando de um dos destacamentos da Coluna Prestes no início de 1925, tendo atuação marcante. Após atravessar o rio Paraná e invadir território paraguaio, a coluna passou ao lado brasileiro, tomando a cidade de Ponta Porã (MS).
Enfrentaram tropas legalistas, atravessaram Goiás e Minas Gerais, rumando depois para o Maranhão. Passaram pelos estados do Nordeste e, liderados por Siqueira Campos, combateram em Pernambuco. Foram combatidos pelo exército, pela polícia e por cangaceiros na Bahia. Em outubro de 1926, sob forte repressão, a coluna seguiu para Mato Grosso. Siqueira Campos recebeu de Prestes a missão de escoltar emissários até o líder revolucionário civil, Assis Brasil, para receber instruções, seguindo depois para Campo Grande. Depois disso voltou a Goiás, passou a Minas Gerais e ocupou a última cidade, PARACATU, em 14 de fevereiro de 1927. Seguiu depois para o Paraguai, encerrando uma marcha revolucionária de 25 mil quilômetros. (transcrito na íntegra da Revista Nossa História, Ano 3/nº. 28, fevereiro de 2006).
MAL DO ENGASGO - O grande médico e escritor mineiro, Pedro Nava, recolheu um manuscrito sobre medicina popular do fim do século XVIII e início do XIX, datado de 1809, contendo 44 receitas sobre diversos males, entre outros escritos (Território de Epidauro, 1947, Ateliê Editorial).
O Dr. Nava reconhece que o autor do documento, era um anônimo português e que o escrevera em PARACATU, entre 1803 e 1809. Nele, destaca a receita para o mal do engasgo e confirma a possível relação desta afecção e a Moléstia de Chagas, pois menciona os sintomas principais (disfagia e regurgitação). Transcrevemos a receita com a grafia de então: “Remédio fáçil para curar o mal deengasgue. Alguos Peçoas que tem esta moléstia decomer e veber e nada lhe pasa do Estomago para baixo desorte que ficão com aflição grande e tornão a votar tudo fora pela voca tem nachado bem comeste Remédio hé votar meyo coartilho de mel de avelhas, chamada jetahi e outro meyo coartilho de agoardente do Reino em huã Garrafa e sacolejar e veber de cada vez huã ou duas culheres de prata ou latão com q. se come huã ou duas vezes Todo dia e logo experimentara milhora”.
Decifre se for capaz.
Comentário: Essa receita mostra a presença da Moléstia de Chagas na região do noroeste de Minas já naquele tempo, apesar de ser desconhecida pela ciência e pelos médicos de então, o que só viria acontecer com a descrição da doença feita pelo cientista Carlos Chagas, em Lassance, cidade norte mineira cem anos depois, em 1909.
CASARÕES – Em Paracatu há dois belos casarões que merecem destaque especial, a Casa da Cultura Maria da Conceição Adjuto Botelho, cujo prédio foi construído por Domingos Pimentel de Ulhoa como sua residência, e que segundo anotações de sua esposa Cândida de Melo, para lá mudaram exatamente no dia 17 de outubro de 1859. O tempo gasto na construção do sobrado foi de quatro anos e tanto conforme o mesmo relato. Portanto, podemos afirmar que o prédio tem hoje, ano de 2007, exatos 148 anos de existência, a partir da data do término da obra. O segundo casarão selecionado é o que hoje abriga a Câmara Municipal de Paracatu e antiga sede social do Jóquei Clube, localizado entre a Praça da Matriz e a Praça Coronel Rodolfo Adjuto. Construído pelo Major Antônio Loureiro Gomes para o seu genro Dr. Pedro Salazar por ocasião de seu casamento com sua filha Paulina Loureiro, na década de 1880. Nesta bela casa, o Dr. Salazar promovia saraus literários e encenações teatrais amadoras, cujo cenário era um dos salões lá existentes, onde toda a ornamentação de origem francesa dava uma aparência majestosa a toda a casa.
Fonte: Arquivo pessoal. Abril de 2007.

Comentários

Postagens mais visitadas

DONA BEJA E AS DUAS MORTES DE MANOEL FERNANDES DE SAMPAIO

Por José Aluísio Botelho A história que contaremos é baseada em fatos, extraídos de um documento oficial relativo a um processo criminal que trata de um assassinato ocorrido na vila de Araxá em 1836. O crime repercutiu no parlamento do império no Rio de Janeiro, provocando debates acalorados entre os opositores do deputado e ex-ministro da justiça, cunhado do acusado, como se verá adiante. Muitos podem perguntar porque um blog especializado em genealogia paracatuense, está a publicar uma crônica fora do contexto? A publicação deste texto no blog se dá por dois motivos relevantes: primeiro, pela importância do documento, ora localizado, para a história de Araxá como contraponto a uma colossal obra de ficção sobre a personagem e o mito Dona Beja, que ultrapassou suas fronteiras se tornando de conhecimento nacional. Em segundo lugar, porque um dos protagonistas de toda a trama na vida real era natural de Paracatu, e, portanto, de interesse para a genealogia paracatuense, membr

LIVRO DE GENEALOGIA PARACATUENSE

Apresentamos aos nossos leitores, em formato impresso e também no e-book, livro que conta de maneira resumida a história de Paracatu, bem como a genealogia da família Botelho e suas alianças com as principais troncos familiares que lá fincaram raízes, bem como as trajetórias de ascensão social, política e econômica desses grupos familiares hegemônicos. Clique na imagem abaixo para adquirir o livro na Amazon.com Clique aqui para visualizar uma prévia do livro.

NETOS DE DONA BEJA - BATISMOS

Por José Aluísio Botelho Disponibilizamos as imagens de assentos de batismos de três netos de Dona Beja, acrescidos dos outros netos, bem como parte da descendência, de acordo com os documentos localizados, filhos de Joana de Deus de São José e do coronel Clementino Martins Borges. Nota: nada se sabe acerca da ascendência de Clementino Martins Borges, embora seu sobrenome é largamente difundido na região do triangulo mineiro e alto paranaíba. Sabe-se que ele faleceu em Estrela do Sul em novembro de 1910 em avançada idade. Alguém tem alguma pista? Batismo de Joana de Deus: "Aos 14 dias domes de Julho de 1838 o Rdo. Pe. José Ferreira Estrella Baptizou solenemente aingnocente Joanna, fa. natural de Anna Jacinta de Sam Jose forão P.P. o coronel João Jose Carneiro de Mendonça e o Alferes Joaquim Ribeiro da Silva epara constar mandei fazer este acento eque assigno. Araxa era supra".  Fonte: Revista O Trem da História, edição 49. Nota: os outros netos de Beja, filhos de Tereza T

FAMÍLIA GONZAGA

Por José Aluísio Botelho FAMÍLIA GONZAGA – TRONCO DE PARACATU Essa família iniciou-se em 1790, pelo casamento do Capitão Luiz José Gonzaga de Azevedo Portugal e Castro, fiscal da fundição do ouro em Sabará – MG, em 1798, no Rio de Janeiro, com Anna Joaquina Rodrigues da Silva, natural do mesmo Rio de Janeiro, e tiveram oito filhos, listados abaixo: F1 – Euzébio de Azevedo Gonzaga de Portugal e Castro; F2 – Platão de Azevedo Gonzaga de P. e Castro; F3 – Virgínia Gonzaga; F4 – Florêncio José Gonzaga; F5 – VALERIANO JOSÉ GONZAGA; F6 – Luiz Cândido Gonzaga; F7 – José Caetano Gonzaga; F8 – Rita Augusta Gonzaga. F5 - Valeriano José Gonzaga, natural de Curvelo,Mg, nascido em 21.07.1816 e falecido em 1868 em Paracatu, casou em 21.07.1836, com Felisberta da Cunha Dias, nascida em 15.08.1821 e falecida em 10.08.1910, natural de Curvelo; foi nomeado Tabelião de Paracatu, tendo mudado para o lugar em 1845, aonde tiveram os filhos: N1 - Eusébio Michael Gonzaga, natural de

FAZENDAS ANTIGAS, SEUS DONOS E HERDEIROS EM PARACATU - 1854 E 1857.

Por José Aluísio Botelho                A LEI DE TERRAS DE 1850 Desde a independência do Brasil, tanto o governo imperial, como os governos republicanos apresentaram inúmeros projetos legislativos na tentativa de resolver a questão fundiária no Brasil, bem como regularizar as ocupações de terras no Brasil. A lei da terra de 1850 foi importante porque a terra deixou de ser um privilégio e passou a ser encarada como uma mercadoria capaz de gerar lucros. O objetivo principal era corrigir os erros do período colonial nas concessões de sesmarias. Além da regularização territorial, o governo estava preocupado em promover de forma satisfatória as imigrações, de maneira a substituir gradativamente a mão de obra escrava. A lei de 1850, regulamentada em 1854, exigia que todos os proprietários providenciassem os registros de suas terras, nas paróquias municipais. Essa lei, porém, fracassou como as anteriores, porque poucas sesmarias ou posses foram legitimadas, e as terras continuaram a se

OS MELO FRANCO

Por José Aluísio Botelho Família de origem portuguesa, cujo fundador no Brasil, João de Melo Franco, que veio para o Brasil aos 30 anos de idade, partindo de Lisboa, onde aprendeu o ofício de Fundidor de cobre, rumo ao Rio de Janeiro; em 1755 já estava no arraial de São Luiz e Santana das Minas do Paracatu. Era natural da freguesia de Nossa Senhora da Purificação, lugar de Bucelas, patriarcado de Lisboa, filho legítimo de José da Costa Franco e de sua mulher Paula Maria de Oliveira. Nasceu a 7 de outubro de 1721, e faleceu em Paracatu em 1796. Casou aí, com Ana de Oliveira Caldeira, natural de Cotia, São Paulo, onde nasceu a 5 de abril de 1739, filha legítima de Antonio de Oliveira Caldeira, nascido a 24 de setembro de 1708 em Santos e de Josefa Nunes da Costa, nascida a 26 de fevereiro de 1722 em Cotia.  Curiosidade: segundo Afonso Arinos de Melo Franco, João de Melo Franco ditou seu testamento ao seu escravo Serafim de Melo Franco, que o redigiu. Abaixo o assento de batism