Por José Aluísio Botelho
Fazia já vinte anos que o poeta Pedro Salazar Moscoso da Veiga Pessoa chegara a Paracatu:
"Longe da pátria e de seu lar querido,
Por lei da sorte o meu viver passei;
Prendido a um laço só de amor nascido,
Longe da pátria, outra pátria amei.
E nesta terra de brilhante história,
Onde eu lutei pela vida honrada;
Vibrei modesto minha lira inglória,
Cantei meus sonhos junto à esposa amada."
O Poeta ali aportou em 1887,com vinte e três anos de idade, como Juiz municipal e de órfãos, e a 07 de maio de 1907, com quarenta e três anos, deixou a velha terra do ouro.Lutando pela vida honrada (como ele próprio disse),pôs sua inteligência privilegiada, e sua cultura invulgar, ao serviço da "terra de brilhante história."
Professor por vocação, humilde, fervoroso, encontrou o egrégio mestre franco apoio no seio generoso da sociedade. Ele jamais aspirou à glória.
Na velha Escola Normal, era o mestre que poderia lecionar todas as disciplinas clássicas do notável educandário, ensinando, ainda, no efêmero Curso de Agrimensura, anexo à mesma escola, criado pela lei nº41, de 3 de agosto de 1892.
Deixando a magistratura, dedicou-se à advocacia, em cujo exercício sempre encontrava um direito para o oprimido, para o humilde.
Amava ele a justiça, defendia com veemência o direito. Perante o Tribunal do Júri, acudia o mestre da eloquência aos míseros, aos necessitados, defendendo com calor, aqueles que nada tinham para lhe retribuir.
Admirável seu desapego dos bens materiais. Em seu lar acolhedor, o desamparado, o necessitado, sempre encontrou proteção. Em um de seus dramas, ele exclamou:
"Ò Deus imenso, de clemência eterna,
Olhai o pobre em sua aflição.
O pobre chora. E nos salões dourados,
O rico manda - cultivai o chão."
Aplicando o aforismo - "Castigat ridendo mores", seus dramas, suas comédias, amenas, graciosas, corrigiam, ensinavam: o teatro é uma escola, dizia ele.
Fundou, em 1893, o maior jornal de Paracatu - "Gazeta de Paracatu". Em 1894, surgiu a "Rosa do Lar", cuja diretora foi sua esposa, D. Paulina Loureiro Salazar Pessoa.
Em sua poesia "A Imprensa" ele assim dizia:
"Estrela d'alvorada dos dias do progresso,
Derrama a tua luz por sobre a humanidade;
Teu brilho doce, puro - é luz de etérea plaga,
Que leva o povo inculto à aurora da verdade."
Mestre consumado da tribuna, figurando entre os maiores oradores de sua época, seus discursos eram enunciados com eloquente calor. No púlpito da Igreja de N. S. do Amparo, nas solenes exéquias celebradas em Paracatu, em homenagem ao Presidente do estado, Sr. Francisco Silviano Brandão, falecido em 1902, já eleito Vice-presidente da República, sublime foi a oração do poeta. Voltando à magistratura, foi juiz de direito das comarcas de Rio Verde em Goiás, Frutal e Araguari, em Minas Gerais, sua última função na vida pública. Sempre com sua ação voltada para a educação, fundou colégios por onde passava.
No "Dicionário Bibliográfico Brasileiro"(volume 7), Sacramento Blake, escreveu sobre o autor:
Pedro Salazar da Veiga Pessoa era filho do Dr. José Maria Moscoso da Veiga Pessoa e natural de Pernambuco, é bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela faculdade de Direito do Recife, formado em 1885. Nomeado Juiz municipal de Paracatu, ali casou-se, fixou residência e tem se dado ao cultivo das letras amenas e ao jornalismo. Jornalista, dramaturgo, comediógrafo, romancista, poeta, historiador, cultivando todos esses ramos do conhecimento humano com distinção, o Dr. Salazar, pode-se dizê-lo, é um brilhante sem jaça que se foi engastar num torrão aurífero, diamantino, onde não expandem as cintilações brilhantes de seu espírito cultivadíssimo. Escreveu:
- A cruz do mistério,1888, drama em três atos;
- O almocreve, drama em quatro atos;
- O solitário ou O vaticínio de uma viagem, drama;
- A filha do bandido ou Os fantasmas da mata de São João, drama;
- O pescador de Olinda, drama;
- Os anjos do lar, drama;
- Yayá, comédia;
- A florista, comédia;
- O voto livre, comédia,
- Uma cena do Arraial, comédia;
- O genro do estalajadeiro, comédia;
- Notas à lápis, comédia;
- A mulher, romance brasileiro;
- O lar de rosas, romance;
- Os dois amigos, romance;
- Flores mínimas, versos. São poesias escritas entre 1893 e 1896,67 páginas, na Gazeta de Paracatu.
O Dr. Pedro Salazar redigiu os seguintes periódicos:
- Gazeta de Paracatu,1893-1898;
- O Lar Católico;
- Correio Católico, Uberaba,1900;
- Gazetinha, Paracatu, 1899-1900.
Escreveu ainda:
- A Rainha dos Sonhos: opereta lírico-cômico-dramática, levada a cena, com grandes aplausos, no teatro de Paracatu, em dezembro de 1899. Além das obras citadas acima, ainda escreveu:
- A Navegação do Paracatu, revista teatral;
- A Rosa do Calvário, drama sacro;
- Liberato e Afonso, romance.
O Dr. Pedro Salazar da Veiga pessoa nasceu a 22 de julho de 1864, e faleceu a 10 de dezembro de 1923. Jaz no Cemitério Municipal de Araguari, Minas Gerais.
Este texto é uma transcrição da biografia do Dr. Pedro Salazar, escrita por Gastão Salazar Pessoa, filho do escritor.
Brasília, em 27 de julho de 2010.
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