Por José Aluísio Botelho
Biografia e Genealogia
O Dr. José Gregório de Moraes Navarro teve uma relação umbilical com Paracatu, como
veremos adiante. Natural de Pitangui, formou-se em direito na Universidade de Coimbra em 1783, e fez leitura de bacharel em 28/04/1784. Pouco se sabe sobre a trajetória deste magistrado na Minas Gerais do final do século dezoito e início do dezenove: falta documentos. Por isso apresentamos esta singela biografia de um homem com ideias progressistas e modernizadoras.
Biografia e Genealogia
O Dr. José Gregório de Moraes Navarro teve uma relação umbilical com Paracatu, como
veremos adiante. Natural de Pitangui, formou-se em direito na Universidade de Coimbra em 1783, e fez leitura de bacharel em 28/04/1784. Pouco se sabe sobre a trajetória deste magistrado na Minas Gerais do final do século dezoito e início do dezenove: falta documentos. Por isso apresentamos esta singela biografia de um homem com ideias progressistas e modernizadoras.
Carreira
na magistratura:
nomeado
para o cargo de juiz de fora da vila de Távira
em 1786,
cidade da região do Faro, Portugal, não
exerceu a função e
retorna a sua pátria.
No Brasil,
torna-se
desembargador da relação do Rio de Janeiro, mas foi um dos raros
casos em que
não exerceu a função, porque estava a serviço da magistratura na
capitania de Minas Gerais; em 12/04/1787 toma posse como
juiz de fora de
Cachoeira com
predicamento de cabeça de comarca;
posteriormente
assume o cargo de
ouvidor da comarca do Rio das Velhas, com sede na vila de Sabará,
onde passa
a residir. Em 1798 foi nomeado juiz de fora, e encarregado de
instalar a Vila de Paracatu do Príncipe, acumulando ambas as funções
até 1808.
Documentos
(trechos):
“Por
Alvará de 20 de Outubro de 1788, pelo qual o Príncipe Regente em
nome de sua majestade a Rainha Dona Maria I, foi servido erigir em
Vila o Arraial de Paracatu, e criado o lugar de Juiz de Fora, para o
qual fora nomeado o bacharel José Gregório de Moraes Navarro Leme,
encarregado de instalar a vila, ato que se celebrou em cerimônia
solene a 18 de Dezembro de 1799, naquela vila”.
"Por
Provisão de 20/04/1799 pela qual Sua Majestade foi servido
encarregar o mesmo Ministro da criação desta vila, e em cumprimento
de tudo tomou o dito Ministro posse do dito lugar para servir por
tempo de 3 anos. Eu Manoel da Costa Cardozo, escrivão público
judicial e notas o escrevi.”
“Auto
de posse do Doutor José Gregório de Moraes Navarro, do lugar de
Juiz de Fora do Cível, e Crime, e Órfãos desta vila com graduação
de corregedor como criador do mesmo lugar – 14/12/1799.”
Aos
dezoito dias de dezembro do dito ano, o Dr. Navarro instalou a Câmara
de vereadores, sendo eleitos seis vereadores, três titulares e três
suplentes para um mandato de um ano, bem assim o procurador da
mesma, todos escolhidos entre os mais velhos habitantes do antigo
arraial. Nos meses subsequentes, procurou o juiz de fora, consolidar
as estruturas político-administrativas da nova vila do Paracatu do
Príncipe, bem como seus limites.
É
importante salientar, que o ouvidor Navarro, residia em Sabará onde
administrava a ouvidoria da comarca do Rio das Velhas, e só
esporadicamente se deslocava até a vila de Paracatu do Príncipe,
para dirimir questões jurídicas que necessitava de um juiz letrado,
no caso o juiz de fora, que como o próprio nome indica, não residia
no seu local de atuação. Ele também tinha como função presidir
as reuniões da câmara, mas, como, via de regra, estava ausente, era
invariavelmente substituído pelo vereador mais velho.
Em
1808, ele solicita licença
para tratamento
de saúde no Rio de Janeiro, prorrogado em 1809, sendo
seu substituto o Dr. João Evangelista de Faria Lobato, futuro
senador do império durante o segundo reinado.
Por
fim, o Dr. José Gregório de Morais Navarro foi designado
e tomou posse em
23/8/1811 do cargo de ouvidor geral e corregedor da comarca do Rio
das Mortes, sediada em São João Del-Rei,
onde
faleceu em 1812.
O
Dr. Navarro era, sem dúvida, um homem à frente de seu tempo: mesmo
ocupando cargos de governança, rebelou-se contra os altos impostos
cobrados pela coroa portuguesa, que ele julgava responsável pela
falta de povoamento e de desenvolvimento do sertão mineiro e da
pobreza de seus habitantes: leia
mais
AQUI.
E também, ao se revelar um ambientalista precursor dos nossos
ecologistas atuais, preocupado com as práticas devastatórias na
exploração da terra, matas e rios, como se pode depreender
em seu pequeno
e fascinante
livro de
vinte páginas apenas:
“Discurso
sobre o Melhoramento da Economia Rústica no Brasil”,
editado em Lisboa em 1799.
Na
página 7 do livreto, o
autor,
conceitualmente,
discorre
e faz
reflexões
sobre a terra e
seu
maior predador,
cujo
trecho
transcrevemos:
“De
todos os elementos que Deus criou para glória Sua, e para utilidade
dos homens, nenhum é certamente mais digno de contemplação do que
a Terra, Mãe comum de todos os viventes. Ela nos faz ainda hoje o
mesmo agasalho que fizera aos nascidos no princípio do mundo. Nem a
multidão imensa de famílias que a tem habitado, nem a terrível
inundação e naufrágio que ela sofreu com todos os seus filhos
criminosos, nem as diversas e espantosas revoluções que a tem
muitas vezes quase lançado fora do seu eixo, nem a longa sucessão
dos séculos que tudo muda e consome, são capazes de esterilizar o
gérmen fecundo de sua fertilidade. Ela será sempre, até o fim do
mundo, tão liberal e benéfica como foi no princípio.... apesar da
ingratidão dos homens, que parece que trabalham continuamente para
destruir e aniquilar as suas naturais produções, e para consumir e
enfraquecer a sua primitiva substância.”
Ler
o livro AQUI
Análise
crítica do livro AQUI
Fidalgo
da casa real com brasão de armas, o
Dr. José Gregório de Moraes Navarro Leme era descendente das
importantes famílias paulistas dos Lemes, Alves Preto, Navarro
Antas e
Oliveiras Gagos.
(Reprodução) |
(Reprodução) |
GENEALOGIA
(subsídios)
Pais: Capitão João de Moraes Navarro, natural de Pitangui, onde nasceu em 1721, e de Ângela Cordeiro Soares de Oliveira, também natural dali, filha de Gonçalo Ribeiro Nilo e de Ana Moreira Cordeiro;
Notas:
1 João
de Moraes Navarro casou segunda vez por volta de 1760 com Clara Maria
da Silva, filha
de Manoel da Silva Fonseca e de Catarina Sodré Sandoval (Arias,
Aguirres
e
Sodrés),
sem descendentes conhecidos;
2
com a criação
da capela de São Gonçalo do Pará, termo de Pitangui em 1766, foi
nomeado
capitão de ordenanças da dita
capela, obtendo
carta patente em 1769. Foi
também capitão da Companhia de Infantaria Auxiliar do distrito de
Itapecerica e Serra Negra do Campo Grande de Bambuí, de que era
Mestre de Campo Inácio Correia de Pamplona. Solicitou baixa do posto
em 1783, em favor do seu filho João de Moraes Navarro Leme. Parece
ter falecido em avançada idade: em uma Carta Patente passada em 1803
“Por se achar vago o Posto de Capitão da Companhia de Ordenança,
por falecimento
de João de Moraes Navarro,
do
distrito de
São Francisco de Paula do Espírito Santo, a
uma légua do
termo da Vila de Pitangui (…)”,
patente essa em favor de João Clemente de Moraes Navarro Leme, seu
neto, empossado
aos 23/11/1803.
Filhos
descobertos
havidos com Ângela Cordeiro Soares de Oliveira:
1
Capitão João de Moraes Navarro Leme, morador na fazenda Ribeirão
de Santana na freguesia do Espírito Santo da Itapecerica (atual
Divinópolis), termo de Pitangui, onde fez testamento em 06/08/1821,
falecendo dois dias depois (08/08/1821): nele declara que foi casado
com Maria da Conceição dos Santos Bueno, falecida em 1825 (era irmã
do padre Luís Álvaro do Santos Bueno, mestre de Gramática Latina
da Vila de Pitangui, falecido em 03/07/1822, filhos do alferes Jacob
João dos Santos e de Helena Vieira da Fonseca), com quem teve doze
filhos, porém não os nomina; descobrimos alguns deles:
1.1
capitão de Ordenanças João Clemente de Moraes Navarro Leme;
1.2
Francisco Álvaro de Moraes Navarro;
1.3
José Gregório de Moraes Navarro, testamenteiro da mãe em 1824;
1.4
Antônio Isidoro de Moraes Navarro, testamenteiro do pai;
1.5
Tenente coronel e Sargento mor Luís Álvaro de Moraes Navarro,
testamenteiro do pai; foi casado com Antônia Mendes de Carvalho, com
descendência;
1.6
Francisco de Salles de Moraes Navarro, tronco dos Moraes Navarro de
Cabo Verde e Muzambinho, no sul de Minas Gerais;
1.7
Maria José de Faria, testamenteira da mãe em 1824; foi casada com o
tenente Francisco Soares de Faria;
1.8
Francisca Júlia, testamenteira da mãe em 1824; foi casada com
Joaquim de Oliveira Costa;
1.9/12…e
mais 4 filhos inominados;
Notas:
1
O capitão João de Moraes Navarro Leme declara um filho natural
havido quando era solteiro, de nome Estanislau, pardo.
2
Patentes: em 04/01/1778 é nomeado Alferes da companhia de Ordenanças
da capela de São Gonçalo do Pará, termo de Pitangui, pelo seu pai
o capitão de Ordenanças João de Moraes Navarro, então comandante
da companhia;
2
Dr. José
Gregório de Moraes Navarro, acima
biografado,
nascido em 1757 (no processo de leitura de Bacharel, datado de 1784,
ele declara ter 27 anos, e ser solteiro). Sua
vida pessoal é pouco conhecida: parece que viveu no estado de
solteiro e
sem
descendentes.
Avós
paternos: Capitão Manoel Preto Rodrigues, um
dos povoadores de Pitangui, falecido em 22/06/1752,
e de Francisca
Siqueira de Moraes, filha de Antônio
Leme do Prado e
de sua primeira mulher Leonor de Siqueira de
Moraes,
falecida em
1700.
Outros
filhos de Manoel Preto Rodrigues e de Francisca de Siqueira de Moraes, nascidos em Pitangui:
2
Antônio Leme do Prado, nascido em 1716;
3
Leonor de Siqueira de Moraes, nascida em 1718; casada com Antônio
Ferraz de Araújo;
4
Ana Maria de Siqueira ou Oliveira, nascida em 1720; foi casada com
Antônio José Maia; alguns filhos descobertos:
4.1
Alferes José Preto Rodrigues, casado com Angélica Maria de Jesus,
com descendência;
4.2
Caetano José Rodrigues;
4.3
Arcângela Maria de Siqueira;
4.4
Manoel Preto Rodrigues;
4.5
Ana Maria de Oliveira, casada com Teodósio Soares Lousada;
5
Rita Rodrigues de Moraes, nascida em 1725; foi casada com Antônio
Rodrigues Pereira;
6
Gertrudes Siqueira de Moraes, batizada na matriz do Pilar de Pitangui
em 10/08/1726; casou em 1742 com seu parente José Leme da Silva,
filho de Francisco Leme da Silva e de Izabel de Anhaya; deixaram
descendência em Campanha do Rio Verde, sul de Minas Gerais;
Nota:
segundo depreendemos da leitura da justificação do orador para se
casar, os pais da noiva eram muito pobres: diz ele “porque a
oradora é das principais famílias e pessoas da vila de Pitangui
onde assiste, e moça muito pobre, porque seus pais não tem bens
suficientes para lhe fazer dote competente para casar com pessoa de
sua qualidade e igualdade…”. Alguns filhos:
6.1
Liberata Leme;
6.2
Escolástica de Moraes Navarro;
6.3
Francisca de Siqueira de Moraes;
7
José Preto Rodrigues, nascido em 1727;
8
Inácio Agostinho Preto, nascido em 1731; foi casado com Rita
Pinheiro Cardoso, com descendência em Campanha e Nazareth Paulista,
sul de Minas Gerais;
9
Maria de Moraes Siqueira, casada com Miguel de Faria Sodré, filho de
Miguel de Faria Sodré e de Verônica Dias Leite Ferraz;
Avós
maternos: Gonçalo Ribeiro Nilo e Ana Moreira Cordeiro;
Bisavós
paternos: Manoel Dias Rodrigues e Ana Maria de Oliveira;
Bisavós
maternos: Francisco Ribeiro Gonçalves e D. Maria Gonçalves de
Souza;
Trisavós
paternos: Manoel Preto e sua mulher Ana Cabral;
Tataravós
paternos: Antônio Preto e Águeda Rodrigues;
Pais de Águeda Rodrigues: Gonçalo Madeira (Portugal), falecido em 1626; foi casado com Clara Parente (f. 1635), filha de Pedro Dias (Tronco).
Pais de Águeda Rodrigues: Gonçalo Madeira (Portugal), falecido em 1626; foi casado com Clara Parente (f. 1635), filha de Pedro Dias (Tronco).
Fontes:
1
Inventário de
Manoel Preto
Rodrigues in www.genearc.net;
2
Projeto Compartilhar
– projetocompartilhar.org
– José Leme da Silva;
3
Resgate
da História
– testamentos – www.http://resgatedahistorya.blogspot.com.br/;
4
Genealogia
Paulista, títulos dos Moraes, Pretos, Aguirre;
5
Genealogia e Heráldica – Fontes documentais da Torre do Tombo para
a história do Brasil (2004)de Luís Felipe Marques da Gama;
6
Arquivo Público Mineiro – Secretaria do Governo Colonial
– Patentes e
Nombramentos.
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