Pular para o conteúdo principal

CONEXÃO PARACATU - ARAXÁ: FREDERICO AUGUSTO MONTANDON



 Por José Aluísio Botelho

FREDERICO AUGUSTO MOTANDON - UMA AÇÃO DE DIVÓRCIO EM 1845
O suíço Frederico Augusto Montandon foi o tronco da tradicional família Montandon que vicejou em Araxá e alhures.
Nasceu entre 1798 e 1804 e faleceu na Bagagem, atual Estrela do Sul em 1876 (vide imagem).



 Veio para o Brasil em 1821, segundo relatos em genealogias familiares, fixando inicialmente no Rio de Janeiro, na rua do ouvidor com ofício de caixeiro. Segundo seu passaporte tinha 21 anos em 1825, solteiro, cabelos castanhos claros e olhos pardos (vide imagem).
Fonte : Familysearch - passaportes
Posteriormente, aportou em São João Del Rei, onde viveu algum tempo. Lá nasceram os três primeiros de cinco filhos que teria da união em concubinato com Claudiana Maria de Jesus. Os outros dois filhos caçulas nasceram na vila de Araxá, para onde o pai tinha se mudado. Versado em ourivesaria e relojoaria, foi nestas profissões que iniciou sua vida no Brasil, tendo também comercializado gado. Sua companheira Claudiana parece ter falecido jovem, logo após o nascimento do último filho, o médico Dr. Eduardo Augusto Montandon.
Nas suas andanças pelo sertão mineiro é certo que Frederico Augusto Montandon viveu em Paracatu. Quando lá chegou não sabemos precisar, provavelmente no final dos anos de 1830. Sua presença na cidade é constatada em 1843, pois seu nome aparece na lista dos moradores de Paracatu, que subscreveram o livro do cônego Marinho – História do Movimento Político de 1842; outra prova contundente é o relato do Dr. Eduardo Augusto Montandon, em documento manuscrito resgatado pela historiadora Rosa Spinoso de Montandon. Nele, ele discorre em suas reminiscências de infância, sua estada na cidade, a entrada em duas escolas particulares e o ensino de algumas rezas pela senhora em cuja casa estava (seria a madrasta?). De Paracatu, continua ele, foi levado pelo pai para a vila dos Couros (Formosa, Goiás), onde estudou na escola do professor Fidêncio de Sousa Lobo (que mais tarde seria Agente Executivo da localidade goiana – grifo nosso). A última prova é sua união com a viúva Dona Francisca da Silva Mascarenhas Pinto, de tradicional família paracatuense, casados canonicamente. Embora não tenhamos encontrado o assento deste casamento, comprova-se a realização do mesmo a partir da ação de divórcio impetrado pela esposa. Provavelmente, nosso personagem, ao chegar à cidade tratou logo de casar-se, porém a união não foi bem sucedida, o que suscitou a solicitação da separação conjugal.
Localizamos um fragmento documental, datado de Agosto de 1845, em que Dona Francisca da Silva Mascarenhas Pinto move a dita ação de divórcio contra o marido, Frederico Augusto Montandon, alegando sevícias por parte do esposo.
Breves considerações sobre o divórcio canônico: "A palavra divórcio era utilizada no direito canônico como sinônimo de separação de corpos, bens e habitação dos cônjuges, sem permitir novas núpcias e produzir a anulação do casamento, de acordo com a Constituições primeiras do Arcebispado da Bahia". "Podia-se solicitar o divórcio baseado em alegações tais como o adultério, a impotência, a infertilidade de um dos cônjuges, injúria grave, bem como sevícias ou maus tratos, que foi o motivo alegado pela esposa impetrante, Dona Francisca".
 Parece que o desfecho do caso foi favorável a senhora, embora a documentação seja fragmentada e incompleta: a mudança dele e os filhos, sem a presença dela, para Formosa da Imperatriz na Província de Goiás, podem sugerir o sucesso na empreitada, obtendo a separação a luz das leis canônicas da época. Localizamos também, a título de informação e de subsídios para a elucidação do caso o obituário, bem como o inventário de Dona Francisca da Silva Mascarenhas: "Aos cinco de julho de mil oitocentos e oitenta e três, faleceu Dona Francisca da Silva Mascarenhas, branca , *VIÚVA (grifo nosso), aos 74 anos de idade, sendo sepultada no cemitério público da cidade". Trecho do inventário, sob a guarda do Arquivo Público de Paracatu:
2ª Vara 1882/1883
Fazenda do Guerra, Babão.
Francisca da Silva Mascarenhas
Falecida em 05/07/1883
Filha do capitão Cypriano da Silva Mascarenhas e Perpetua Cândida de Morais.
1º - Casamento com ANTONIO MARTINS PINTO.
2º - Casamento com FREDERICO AUGUSTO MONTANDOM, falecido na cidade de BAGAGEM, sendo o inventario dele feito na cidade de BAGAGEM, cujos bens ficaram para os seus herdeiros naquela cidade.
São provas documentais que ela sempre viveu em Paracatu e foi casada realmente com Frederico Augusto Montandon em segundas núpcias.
*A viuvez pode indicar que ela permaneceu casada, obrigada a "Viver em Continência Sexual", uma vez que o casamento era indissolúvel.
A título de ilustração publicamos imagens do processo.
Fonte: Arquivo Público Municipal de Paracatu - Documentos eclesiásticos.
Imagem 1
                                  
Imagem 2
                               
Imagem 3

Comentários

Postagens mais visitadas

DONA BEJA E AS DUAS MORTES DE MANOEL FERNANDES DE SAMPAIO

Por José Aluísio Botelho A história que contaremos é baseada em fatos, extraídos de um documento oficial relativo a um processo criminal que trata de um assassinato ocorrido na vila de Araxá em 1836. O crime repercutiu no parlamento do império no Rio de Janeiro, provocando debates acalorados entre os opositores do deputado e ex-ministro da justiça, cunhado do acusado, como se verá adiante. Muitos podem perguntar porque um blog especializado em genealogia paracatuense, está a publicar uma crônica fora do contexto? A publicação deste texto no blog se dá por dois motivos relevantes: primeiro, pela importância do documento, ora localizado, para a história de Araxá como contraponto a uma colossal obra de ficção sobre a personagem e o mito Dona Beja, que ultrapassou suas fronteiras se tornando de conhecimento nacional. Em segundo lugar, porque um dos protagonistas de toda a trama na vida real era natural de Paracatu, e, portanto, de interesse para a genealogia paracatuense, membr

REIS CALÇADO - UMA FAMÍLIA JUDIA NA PARACATU DO SÉCULO XVIII

Por José Aluísio Botelho  Eduardo Rocha Mauro Cézar da Silv a Neiva   Família miscigenada, de origem cristã nova pela linha agnata originária do Ceará . Pois

GUARDA-MOR JOSÉ RODRIGUES FRÓES

Por José Aluísio Botelho             INTRODUÇÃO  Esse vulto que tamanho destaque merece na história de Paracatu e de  Minas Gerais, ainda precisa ser mais bem estudado. O que se sabe é que habilitou de genere em 1747 (o processo de Aplicação Sacerdotal se encontra arquivado na Arquidiocese de São Paulo), quando ainda era morador nas Minas do Paracatu, e embora fosse comum aos padres de seu tempo, aprece que não deixou descendentes*. Que ele foi o descobridor das minas do córrego Rico e fundador do primitivo arraial de São Luiz e Santana das Minas do Paracatu, não resta nenhuma dúvida. De suas narrativas deduz-se também, que decepcionado com a produtividade das datas minerais que ele escolheu, por direito, para explorar, abandonou sua criatura e acompanhou os irmãos Caldeira Brandt, que tinham assumido através de arrematação o 3º contrato de diamantes, rumo ao distrito diamantino. Documento de prova GENEALOGIA  Fróis/Fróes - o genealogista e descendente Luís Fróis descreveu

CONTRIBUTO A GENEALOGIA DO ALTO PARANAÍBA: OS MARTINS MUNDIM DE MONTE CARMELO

POR JOSÉ ALUÍSIO BOTELHO Família originária de Mondim de Bastos, Vila Real, Portugal, estabelecida inicialmente na região de Oliveira em Minas Gerais. Na primeira metade do século dezenove movimentou-se em direção da Farinha Podre, estabelecendo com fazendas de criar na microrregião de Patrocínio, com predominância no distrito do Carmo da Bagagem, atual Monte Carmelo. Manoel Martins Mundim, português da vila de Mondim de Basto, veio para o Brasil, em meados do século dezoito a procura de melhores condições de vida na região do ouro, Campo das Vertentes, capitania de Minas Gerais. Aí casou com Rosa Maria de Jesus, natural da vila de Queluz. 1 Manoel Martins Mundim e Rosa Maria de Jesus . Filhos: 1.1 Manoel, batizado em Oliveira em 30/06/1766; sem mais notícias; 1.2 Mariana Rosa de Jesus , batizada em 3/7/1768. Foi casada com Manoel José de Araújo, filho de José Alvares Araújo e de Joana Teresa de Jesus; Filho descoberto: 1.2.1 Antônio, batizado em 1796 na capela d

FAZENDAS ANTIGAS, SEUS DONOS E HERDEIROS EM PARACATU - 1854 E 1857.

Por José Aluísio Botelho                A LEI DE TERRAS DE 1850 Desde a independência do Brasil, tanto o governo imperial, como os governos republicanos apresentaram inúmeros projetos legislativos na tentativa de resolver a questão fundiária no Brasil, bem como regularizar as ocupações de terras no Brasil. A lei da terra de 1850 foi importante porque a terra deixou de ser um privilégio e passou a ser encarada como uma mercadoria capaz de gerar lucros. O objetivo principal era corrigir os erros do período colonial nas concessões de sesmarias. Além da regularização territorial, o governo estava preocupado em promover de forma satisfatória as imigrações, de maneira a substituir gradativamente a mão de obra escrava. A lei de 1850, regulamentada em 1854, exigia que todos os proprietários providenciassem os registros de suas terras, nas paróquias municipais. Essa lei, porém, fracassou como as anteriores, porque poucas sesmarias ou posses foram legitimadas, e as terras continuaram a se

FAMÍLIA GONZAGA

Por José Aluísio Botelho FAMÍLIA GONZAGA – TRONCO DE PARACATU Essa família iniciou-se em 1790, pelo casamento do Capitão Luiz José Gonzaga de Azevedo Portugal e Castro, fiscal da fundição do ouro em Sabará – MG, em 1798, no Rio de Janeiro, com Anna Joaquina Rodrigues da Silva, natural do mesmo Rio de Janeiro, e tiveram oito filhos, listados abaixo: F1 – Euzébio de Azevedo Gonzaga de Portugal e Castro; F2 – Platão de Azevedo Gonzaga de P. e Castro; F3 – Virgínia Gonzaga; F4 – Florêncio José Gonzaga; F5 – VALERIANO JOSÉ GONZAGA; F6 – Luiz Cândido Gonzaga; F7 – José Caetano Gonzaga; F8 – Rita Augusta Gonzaga. F5 - Valeriano José Gonzaga, natural de Curvelo,Mg, nascido em 21.07.1816 e falecido em 1868 em Paracatu, casou em 21.07.1836, com Felisberta da Cunha Dias, nascida em 15.08.1821 e falecida em 10.08.1910, natural de Curvelo; foi nomeado Tabelião de Paracatu, tendo mudado para o lugar em 1845, aonde tiveram os filhos: N1 - Eusébio Michael Gonzaga, natural de