Por José Aluísio Botelho
Resgatamos,
após minuciosas pesquisas, alguns escritos de Olympio Gonzaga que se
encontravam desaparecidos, dentre eles, crônicas que escreveu
para seu livro não editado, Lendas do Brasil Central, transcritas na
grafia original, tal como ele as concebeu, sem correções
ortográficas e gramaticais, para que nossos leitores avaliem a
qualidade dos textos e sua importância para a história de Paracatu.
CRÔNICA
Registros
dos principaes factos políticos ocorridos na cidade de Paracatu,
entre o ano de 1919 até 1947 sob a direção dos chefes políticos
Dr. Sérgio Gonçalves de Ulhoa e Dr. Joaquim Brochado como
responsãveis pelos crimes praticados.
Para
as Lendas do Brasil Central, por Olympio Gonzaga.
Em
28 de outubro de 1919 agressão e ferimentos a bala no Promotor
Público Dr. Eurico Guterres, por Waldomiro Pinheiro e jagunços.
Em
2 de Novembro de 1919 agressão e empastelamento da Folha do Povo que
era redigida pelo Coletor Federal Capm. Alyrio Carneiro, sendo
autores: Santos Roquette, Romero Lepesqueur Zico, Carlos Tunes,
Waldomiro e Delduque Pinheiro etc.
A
4 de Dezembro agressão ao capm. Alyrio Carneiro, que foi atacado
pelo grupo referido acima;
Em
5 de Dezembro de 1919 o mesmo grupo de rapazes queimou a EMPRESA
FUNERÁRIA DE PARACATU pertencente a Ananias de Mello Franco e a João
Gonzaga, causando-lhes um prejuiso de sessenta mil cruzeiros, crime
em pleno dia, que ficou impune.
Em
20 de dezembro de 1919 numeroso grupo do Partido Popular foi
empastelar a tipografia da A VOZ DO SERTÃO, pertencente a Carlos
Tunes e ao vigário José Videira, que arrancou o queixo do soldado
com um tiro de Mauser, vigiando a porta. Depois o Vigário ficou
louco e retirou-se em camisa de força;
Em
12 de Dezembro de 1919 o referido grupo de desordeiros, fasendo
quartel na capela do Rosário com os jagunços dos Pinheiros, puseram
a cidade de Paracatu em polvorosa, com tiroteios pelas ruas, à porta
do Dr. Luiz Pinto, Juiz Municipal, que foi desposto, retirando-se
para a cidade de Araxá.
Não
satisfeitos com os atos arbitrários, em 16 de janeiro de 1921, foi a
deposição do Prefeito Municipal, as 12 horas do dia, Dr. Henrique
Itiberê para assaltarem o poder. Fizeram parte: os Pinheiros, Tonico
Porto, dr. Cândido Ulhoa, Zico Lepesqueur, Carlos Tunes, Caetano
Neiva, Pedro Manduca, Francisco Carneiro e outros Jogadores armados e
acompanhados de jagunços, sem motivo algum.
Em
5 de Novembro de 1922 foi o assassinato do professor Henrique Fritz
Husemann à Rua Goiaz, jogando bilhar com Osório Botelho por Nacó e
outros jagunços de Santos Roquete e Carlos Tunes, deixando viúva e
filhos.
Aquele
grupo que depoz o Prefeito, mais o Zeca Hormidas, na noite de 19 de
Maio de 1925 quebraram 96 lâmpadas da iluminação pública,
reclamação ao delegado Olympio Gonzaga pelo Prefeito Pedro Santana
tendo ficado os nomes dos desordeiros na Delegacia.
A
8 de Agosto de 1926, celebrando a missa de domingo, o Vigário Pe.
Antonio Pereira Dias foi alvejado no altar por Romero Lepesqueur
Zico, que errou o alvo, causando grande indignação do povo.
No
dia seguinte, 9 de Agosto de 1926, o Tonico Porto, de arma em punho,
à frente daquele numeroso grupo já referido, as 12 horas do dia,
com jagunços armados, depuseram o vigário padre Antonio Pereira
Dias, sob ameaça de Antonio de Sousa Porto.
Dom
João Pimenta, Bispo de Montes Claros, ficou indignado, interditou as
egrejas de Paracatu 1926,1927,1928, lançou a excomunhão em Zico
Lepesqueur, levou as lamentáveis ocorrências em Paracatu ao
conhecimento do Presidente de Minas Geraes Dr. Raul Soares, que, em
sinal de protesto, retirou todas as autoridades de Paracatu, por 3
anos.
Dona
Joana Lopes Gonzaga, da irmandade da Maria, ajoelhou-se aos pés de
seu filho Olympio Gonzaga, solicitando um vigário para esta cidade,
o qual, refletindo, viu que Paracatu devia ser emancipado de Montes
Claros, creando-se um Bispado aqui. Escreveu um artigo neste sentido,
trabalhou com denodo, perante todas as autoridades religiosas, e, com
o apoio do Ministro Dr. Afrânio de Mello Franco, seu patrício, foi
creada a PRELAZIA DE PARACATU, cuja instalação foi a 4 de Agosto de
1928, tendo gasto cerca de tres mil cruzeiros de seu bolço; sofreu
criticas acerbas: mascarados nas ruas vestidos de Padre, tendo
escrito nas costas PRELAZIA DE OLYMPIO GONZAGA; um cavalo russo no
prado com a palavra PRELAZIA escrita na trazeira. Mas no dia da posse
de Dão Eliseu Van Veijer (sic) o frei Fiusa leu a BULA PAPAL DA
CREAÇÃO DA PRELAZIA DE PARACATU E TESSEU GRANDES ELOGIOS A OLYMPIO
GONZAGA, o pioneiro da magestosa ideia.
4
de outubro de 1930 o coronel Quintino Vargas organisou em Paracatu o
BATALHÃO ARTHUR BERNARDES COM 700 HOMENS invadiu e tomou Goiaz,
colocando na capital o Dr. Pinheiro Chagas. Foi nomeado prefeito de
Paracatu, em cuja administração apareceram notáveis melhoramentos
– navegação a vapor do rio Paracatu, luz e força, cadeia nova,
avenidas, chafarizes, arborisação, açude, jardim, coreto, estradas
de rodagens etc, etc. Entretanto, os seus inimigos políticos
moveram-lhe tremenda guerra à surdina, com sede ao pote até
alcançarem o poder, tendo o Governador Benedito Valadares praticado
esta grande injustiça, esquecendo todos os notáveis feitos desse
homem de valor – Quintino Vargas, que se retirou para a cidade de
Pirapora, onde organizou uma importante ??? de Navegação do Rio São
Francisco, várias indústrias e Fábrica de Tessidos, ficando
milionário, e foi eleito deputado estadoal, recentemente.
O
partido político chefiado pelo Dr. Joaquim Brochado moveu tremenda
perseguição a todos os membros do partido do coronel Quintino
Vargas, com o auxílio e apoio do Delegado Especial (mercenário)
tenente João Wenceslau de Sousa e seu filho arbitrário, violento
Sebastião de Sousa, os quaes praticaram nesta cidade as maiores
arbitrariedades.
Na
noite de natal, distante de Paracatu duas legoas, na Fazenda da
Contagem, reuniu-se 19 pessoas homens e mulheres para resar o terço;
o delegado foi lá com a polícia, levou todos para a cadeia, meteu o
chicote em todos, obrigando-os, ainda, a beber urina com fumo e
salamargo, tendo este fato causado horror e indignação geral, tendo
o Dr. Julião Amaral impretado uma ordem de habeas corpus. 25 de
Dezembro de 1935.
No
tribunal do Juri em 12 de Desembro de 1936 o advogado relatou o caso
das prisões da noite de natal e outros fatos e crimes da polícia,
sendo agredido e espancado barbaramente o Dr. Julião Amaral, em
frente ao fórum, no Beco do Chafariz, por Vasco Botelho, Diogo
Botelho, Silvio Botelho e Gerardo Botelho, os quaes não atenderam
….Dr. Juiz de Direito, do Coletor e do pessoal do Forum pois
contavam com o apoio do Delegado Tte. João Wenceslau de Sousa e da
polícia mercenária, comprada.
No
dia 28 de Junho de 1936, a título de vitória eleitoral, Adriles
Ulhoa Chefiando numeroso grupo de companheiros, percorreu as ruas
desta infeliz cidade jogando dinamite em todas as casas dos
correligionários do coronel Quintino Vargas, tendo causado grandes
estragos: Olympio Gonzaga, Christovan Gonzaga, Gentil Gonzaga, João
Macedo. Emigdio Freire, Ananias de Mello Franco, Temístocles Rocha,
Alexandre Fernandes, Antíssimo Lisboa, Jorge Batista, Leopoldo
Faria, Frederico Tormin, Alício Lisboa e mais de cincoenta casas.
Este crime ficou impune como todos os outros.
Em
22 de Janeiro de 1937, em visita a sua mãe enferma, aportou a esta
cidade o radio-telegrafista do couraçado Minas Geraes Sr. Luiz dos
Santos Faria, o qual viajou até o Porto Burity no mesmo vapor com o
coronel Quintino Vargas, sendo tomado pelo chefe como jagunço de
Quintino, e, por este motivo foi barbaramente assassinado pela
polícia: Sebastião de Sousa, filho do Delegado Wenceslau, João
Ferreira, o cabo José Pedro, à rua dos Peres, as (?) horas da noite
de luar. Este crime, que devia ficar impune foi noticiado nos jornais
por Olympio Gonzaga e o Dr. Carlos Filho, que se retirou para Goiaz,
e Olympio Gonzaga pagou o pato.
Olympio
Gonzaga foi barbaramente espancado na tarde de 27 de Fevereiro de
1938 no Largo da Jaqueira, a mandado do Dr. Joaquim Brochado, pelos
seus filhos Domingos Brochado e Cláudio Brochado, tendo causado
grande indignação na imprensa do Triângulo, Rio e São Paulo.
Domingos respondeu Jure e Cláudio nada sofreu com 17 anos,
precisando de chupeta.
O
meu eminente patrício Embaixador e Ministro Dr. Afrânio de Mello
Franco sofreu tremenda guerra politica dos referidos politicos,
negando-lhe o voto. Uma vez eu ouvi de um chefe este abisurdo: ainda
hei de ver seu amigo Mello Franco cahir do poleiro como mamão maduro
(sic), de fato ele cahiu para as nuvens com seus feitos gloriosos e
reputação mundial, tendo sido agraciado com as mais elevadas
comendas de varias nações, como embaixador, que dirimiu o caso da
Letícia, sendo-lhe prestadas grandes homenagens no congresso de
Buenos Aires.
Fonte:
Biblioteca Nacional do Brasil, divisão de manuscritos.
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