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ANTÔNIO RIBEIRO JÚNIOR, RIBEIRO JÚNIOR, TONICO RIBEIRO, DE PARACATU

 Por José Aluísio Botelho



Dr. Antônio Ribeiro Júnior, o professor de Direito da Faculdade de Direito da Universidade de Goiás; Ribeiro Júnior, o escritor, autor de crônicas admiráveis. Paracatuense de estirpe.

Natural de Paracatu, onde nasceu em 18/3/?, no alvor do século vinte, filho de outro Antônio Ribeiro e de dona Norbertina Malheiros Ribeiro, esta filha de senhor Malheiros e de Margarida Lopes da Trindade, irmão de José Ribeiro, cunhado de dona América; irmão de Cota (Liberalina), cunhado de Cipriano; e de Dadá (Lenira, casada com Pedro dos Reis Calçado) e tio de Adair. Na infância acompanhou os pais, que adquiriram uma fazenda em Cristalina, Goiás; seu pai nomeado Subpromotor do Termo. Volta à Paracatu, onde trabalha como contador da Prefeitura, adere ao jornalismo e colabora com os jornais "O Triângulo" de Araguari e "Gazeta de Paraopeba, além do jornal local "Folha de Paracatu"; em 1943 retorna à Goiás, agora para a cidade de Formosa para trabalhar na função de Bancário. Em Formosa chegou a gerente de Banco, atuou no magistério como professor festejado e na política: vereador e presidente da Câmara nos anos de 1960. Segundo ele, nas três cidades viveu quase a totalidade de sua vida, que findou na capital Goiânia. Casou em Formosa com Avelina Jacinto Ribeiro e teve quatro filhos: Zilá, Carlos Alberto, Zaida e Cláudio Roberto.

Ao trazê-lo ao conhecimento dos paracatuenses, transcreveremos três crônicas selecionadas de sua larva. 

O INSPETOR DE QUARTEIRÃO

Em tempos não muito remotos havia no interior do Brasil, nos povoados e fazendas principais, a figura respeitável do Inspetor de Quarteirão designado pela autoridade policial do município a que pertenciam. Era um mandatário rural, um misto de delegado e Juiz de Paz, responsável pela tranquilidade e  harmonia entre os moradores do distrito de sua jurisdição, sem delimitação específica.

Sem, receber qualquer remuneração dos cofres públicos ou das partes, competia-lhe resolver toda e qualquer pendência ou querela suscitada entre as pessoas d=no território sob sua responsabilidade. As ocorrências que excediam sua competência era levada à consideração do delegado, na sede do municipal. Respeitado, acatado e obedecido por todos, suas atribuições jamais foram definidas por qualquer norma legal, configurando, dessa forma, uma espécie de justiça consuetudinária indispensável à ordem e aos bons costumes, face aos inestimáveis serviços prestados às populações campesinas, na pronta solução dos múltiplos conflitos verificados no meio rural, que não chegavam, assim, ao conhecimento do delegado de Polícia, num desafogo de suas atribuições legais.

Certa época, era Inspetor de Quarteirão do antigo povoado de São Sebastião, próximo à Paracatu, o austero Sr. José Manoel Teixeira, ou melhor, Seu Juca do São Sebastião, como era conhecido na cidade, no arraial e redondezas. Era rude trabalhador e honesto a toda prova. Pertencia-lhe excelente propriedade situada no arraial. Em sua ampla sede havia magnífico pomar constituído de numerosíssimas árvores frutíferas, notadamente laranjeiras das melhores qualidades, em razão do que se via atordoado a todo instante pelos indesejáveis e atrevidos invasores, em busca de cobiçantes laranjas e outras frutas existentes em seu quintal, com área aproximada de cinco hectares, repleta de variadas plantações.

A estrada real que demandava ao arraial da lagoa, beirava a cerca do seu cobiçado pomar, que se tornou famoso nas redondezas e na cidade, principalmente. Numerosas e reiteradas eram as visitas ao seu proprietário, ou melhor, à magnífica herdade, de onde se levava o que pretendesse, sem nada custar ao visitante.

Para evitar que os invasores o importunassem, Seu Juca plantou, ao longo da cerca de arame da sua propriedade, uma centena de laranjeiras e outras árvores frutíferas, das melhores qualidades, destinando seus frutos aos transeuntes, que os poderiam colher e levar à vontade, sem necessidade de invadir o seu quintal, danificando, assim, sua bem cuidada cerca. Zelava Seu Juca das árvores plantadas à beira da estrada, do mesmo modo que cuidava das demais, no interior da sua propriedade.

Madrugada alta lá estava ele, de enxada em punho, tratando de suas plantações, ao lado de seus empregados e diaristas, ou cuidando de seus animais domésticos, sobretudo das centenas de galináceos e outras aves das mais variadas e selecionadas espécies. Ovos, colhia ele diariamente grande quantidade. Frangos, nem sabia quantos existiam sempre em seu terreiro. O único flagelo eram as formigas cabeçudas, combatidas por processos rústicos e pouco eficientes.

Viúvo há muitos anos, acostumou-se Seu Juca, cedo, à afania, que não mais o atormentava; por essa razão, jamais teve outra companheira além da esposa saudosa, que lhe deu alguns filhos, falecida há anos. Morava num casarão de telhas, sede da fazenda, com mais de vinte compartimentos, em companhia de fiéis serviçais, seus dedicados parceiros no eito, na eira e nos demais afazeres da sua propriedade, constituída, ainda, de bem cuidadas invernadas destinadas ao gado vacum e aos numerosos animais de sela, gordos e bem cuidados, além de campos para os caprinos e lanígeros existentes no majestoso sítio, invejado por todos. O leite era farto e gratuito para os visitantes e necessitados, em número cada vez maior, o que muito envaidecia o abastado e rude senhor. Nas pocilgas amplas, assoalhadas e lavadas diariamente, nunca havia menos de uma centena de porcos; os mais gordos ficavam em cevas à parte, tratados todos, com milho farto, soro abundante, mandioca enxuta, abóbora à vontade e farelo de arroz, além de outros alimentos apropriados à espécie, produzidos na própria fazenda.

Zeloso dos seus pertences, era Seu Juca igualmente cioso de sua autoridade de Inspetor de Quarteirão, posição que muito o envaidecia, cumprindo à risca os deveres inerentes ao cargo, sem nada receber das partes. Realizava diligências, ia à cidade "resolver" com o Delegado os casos mais complexos que escapavam à sua competência por ele mesmo delimitada. O extraordinário senso de responsabilidade do fazendeiro não tinha limite, mas tinha a dimensão da sua bondade e retidão. Sua honorabilidade e probidade no cumprimento de seus deveres eram do conhecimento de todos. Apesar de rústico, era respeitável pela sua integridade intocável, invulgar e inato conceito de justiça e equidade. Amigos não lhe faltavam, alguns interessados, mas todos em volta da sua pessoa.

Certa vez, um de seus filhos (Juquinha) envolveu-se numa briga na cidade e acabou atingindo uma pessoa com disparos da sua arma. Fugiu prestes à ação da polícia, embreando-se em densas restingas, varando borocotós aparentemente intransponíveis, com os que se estendem ao longo do Córrego São Domingos, região que o fugitivo bem conhecia, até chegar à herdade do seu severo pai, espavorido, em busca de abrigo contra os policiais que deveriam estar a sua procura, por certo.

Ao deparar com o filho atônito, percebeu seu Juca que algo de grave lhe havia acontecido. Implorou-lhe o moço, espaventado, que lhe proporcionasse, quanto antes, meios para fugir, pois, a polícia que deveria estar no seu encalço, não tardaria.

A par do ocorrido, impávido, sem titubear, levantou-se Seu Juca do seu tamborete privativo e, chamando três dos seus empregados de confiança, robustos, forçosos, em tom grave e austero, disse ao filho delinquente: - Você está preso, ordenando, em seguida aos camaradas, que subjugassem o prisioneiro. Sou o Inspetor de Quarteirão daqui, meu filho. Meu dever é levá-lo preso à cidade e entregá-lo à polícia. Na prisão, aguardará você o necessário julgamento pelo crime praticado. Acima do coração de pai, está o dever da autoridade; acima do amor está a justiça. Estas foram, mais ou menos, as palavras proferidas por Seu Juca, no seu linguajar rústico, ao prender o filho criminoso e foragido. Mandou, em seguida, encilhar os animais, colocando numa montaria o prisioneiro amarrado, que ele próprio conduziu à cidade, entregando-o ao delegado, que jamais havia presenciado gesto tão nobre ao cumprimento do dever, por parte de qualquer autoridade. Na prisão, deu Seu Juca cabal assistência ao filho, até o julgamento, afinal.

No dia do júri, após a leitura da sentença, aos termos do veredito que absolveu Juquinha, visivelmente emocionado, em voz grave, sufocada por copiosas lágrimas, disse o honrado Inspetor de Quarteirão ao filho livre: - Minha casa sempre foi a casa de meus filhos e de meus amigos e continuará sendo de todos. Nela somente não há lugar para criminosos e marginais. É a casa de seu pai, meu filho, mas é também a casa do Inspetor de Quarteirão do povoado de São Sebastião. No cumprimento do dever legal, o prendi. Assistindo-o na prisão, cumpri minha obrigação, conciliando, dessa forma, o dever da autoridade e o amor de pai

Poucos anos depois, velho e enfermo, morreu o intrépido e probo Inspetor de Quarteirão, legando aos filhos e a quantos o conheceram, o edificante exemplo de honestidade e probidade raras no cumprimento do dever, jamais postergado em toda a sua vida.Homens como Seu Juca já não há muitos nos tempos atuais. Hozanas à sua memória.                      

                                                                                       Goiânia, junho de 1979.


"SIMPLICIDADE"

Há poucos dias fui surpreendido ao chegar em casa. Sobre minha mesa de trabalho encontrei "Simplicidade", preciosa obra póstuma de Branca Adjuto Botelho. Ao abrir o livro, deparei-me com essa dedicatória: "Ao Ribeiro Júnior, oferece Maria da Conceição Adjuto Botelho".

Coisa simples, um livro de poesias, contendo um oferecimento lacônico, dirá por certo o leitor. Não há nisso, nada de mais, de extraordinário. "Simplicidade, porém, sintetiza a própria alam "encadernada" da sua autora. As poesias nele enfeixadas são a revelação patente do espírito feminino, sutil e modernizado, irrequieto e ávido de deslumbramentos, na ânsia incontida de desvendar os arcanos do infinito, que a poeta buscava com indivisível sofreguidão.

Em suas poesias, revelou-se Branca em duas fases distintas: a menina ilusão e a moça realidade, num conflito de duas épocas opostas, vividas ao mesmo tempo. Na primeira, patenteada está a jovem crédula e apressada, que tudo fez para desvendar os mistérios da vida, na indagação da sua razão de ser, face ao incógnito que a cerca e que tanto afligia a poeta. Na segunda fase, já amadurecida e conformada com o malogro de suas místicas indagações, cuidou a autora de lançar ao mar de suas ilusões desfeitas, o barco frágil da existência, indiferente, então, ao fragor da procela contra que lutou antes,, ao encetar a promissora peregrinação, na vâ perscrutação do infinito insondável, em busca do incognoscível por ela criado na primeira fase e que matizado estava ainda com as cores com que foi idealizado, para compor o mundo encantado com que sempre sonhou. Um mundo somente seu, isento de falsidades, imune às abjeções e aviltamentos. Não logrando concretizar o seu ideal de poeta nefelibata e grácil, preferiu partir para a conquista do seu ideal maior. Morreu por isso. Outro, sem dúvida, seria o mundo que passou habitar; não este, repleto de misérias, infestado de mentiras, farto de incompreensões.

Através das páginas de "Simplicidade", percebe-se facilmente a maneira como Branca, criança ingênua e amorável, concebia a existência, diante do prisma chocante com que encarava o mundo de fantasias, enfeitado com as nuanças da sua imaginação e ornado com os matizes próprios da sua mocidade fulgente, sem qualquer compromisso com as deploráveis mazelas sociais que ela tanto abominava e de que estava sempre distanciada. Só assim a poeta concebia a vida, em evidente contraste com sua realidade acerba.

Prefaciado pela mãe da autora, D. Maria da Conceição Adjucto Botelho, "Simplicidade" revela, além de outros valores, o fato de haver sido o primeiro fruto da inteligência feminina paracatuense, que já se publicou, até então, na lendária e vetusta terra dos Caldeira. Desvendou a jovem poeta, portanto, galhardamente, depois de morta, os mistérios que eram aqui guardados em torno da publicidade. O preconceito foi rompido e o livro foi editado. O sucesso não se fez esperar.

Ao apresentar a seus amigos e ao público as poesias de sua filha, a escritora maria da Conceição Adjucto Botelho, em lapidar e comovente prefácio, externou a sua inigualável dor de mãe, patenteada na saudade infinda que branca deixou no seu coração dorido e na lembrança terna de seus familiares e amigos, com a prematuridade da sua morte.

 São de "Simplicidade" estes versos:

ÃNSIA


O céu lá em cima, tão limpo,

Azulzinho que faz gosto...

Corro a subir naquele morro

Para pegar no céu...

Mas ele vai subindo, subindo

E fica longe...longe...

Desesperadamente inatingível.

E eu fecho as minhas mãos vazias,

Meus dedos retezados na ânsia do impossível.


No dizer de Jair Silva, referindo-se  ao livro de Branca, as pessoas inteligentes custam mais a morrer. Eu afirmo que elas não morrem, jamais, como é o caso de Branca. Morta, ela continuará viva na lembrança dos seus entes queridos e de quantos a conheceram e louvaram o seu talento.

Dizia Humberto de campos que feliz era o morto que uma semana depois de sepultado ainda tivesse amigos na terra. este conceito torna Branca mais viva ainda, já que está sendo lembrada mais do que nunca Sua imagem está se perpetuando na recordação de quantos lhe foram caros em vida. Suas poesias aí estão para imortalizá-la, para evidenciar os seus inegáveis méritos literários.

Para os paracatuenses, "Simplicidade" é um grande livro. Para os demais, é um livro de poesias, apenas, capaz de competir com qualquer outro, no gênero, entre os melhores. Para quem conheceu Branca, a sua obra é a lembrança terna e a recordação perene de uma inteligência fulgurante, senão a saudade imorredoura daquela a quem a morte levou no limiar da existência, sucumbindo-a na eternidade inevitável. Foi sua morte a cessação de uma vida no esplendor da mocidade radiante, roubada às glórias do seu mundo interior, santificado e puro, por ela criado, cacheado das saudáveis messes que ornavam a sua juventude deslumbrante e ruidosa, na sua pujança maior.

Para os pais de Branca, "Simplicidade" encerra um punhado de dores enfeixadas num volume e concatenadas num livro que reflete a imagem viva da filha, inserida numa estande, entre outras preciosidades literárias.

Branca viverá, assim, muito mais, depois de morta.

Paracatu - março de 1937


 UM RIO, UM SONHO ( bela produção literária que retrata o grande rio Urucuia)

O Sertão do Urucuia é um mundão sem fim.

O rio nasce nas fraldas do Estado de Goiás, no sopé da Serra do Bonito, tão fino, águas raquíticas e lamosas, nem parece torna-se, pouco abaixo, tão volumoso e brabo, após engrossarem-lhe o caudal possantes ribeirões, seus afluentes de ambas as margens.

Em seu curso sinuoso e abrupto, às vezes vence misteriosamente escarpas e alcantis que, a primeira vista, se afiguram intransponíveis. Nas cheias, leva a roldão enormes troncos de árvores arrancadas com as raízes, dos barrancos, pela intrepidez e pujança de sua torrente irresistível, que tudo arrasa, num desafio da natureza inculta, não contaminada ainda pela civilização que, felizmente, não atingiu aquela região agreste, onde vive gente humilde e inocente, sorumbática por índole, hospitaleira e lhana por formação e por princípios impostergáveis.

O sertão é o Brasil brasileiro, tal como Deus o fez, despojado do influxo do progresso que adultera e corrompe tudo o que é belo e autêntico. Os campos que circundam o majestoso rio ostentam vegetação variada, sendo as terras de formação geológica diversificada, com predominância de chapadões imensos e arenosos, entrecortados, a cada instante, por imensas e sinuosas filas de buritizais virentes (que verdeja, grifo nosso), afinados em busca das alturas, seguindo minguados ou volumosos cursos de água que formam as veredas características das chapadas, tão fartas nos altiplanos do Brasil Central.

Transpõe o rio regiões tão montanhosas, que o seu leito, às vezes, se reduz em largura, formando verdadeiros cafotos (água que corre num estrito entre pedras, grifo nosso), por onde as águas passam espremidas, para lançarem-se, pouco adiante, aos jorros, em aterrorizantes penhascos, verdadeiros báratros, precipitando-se de alturas altas, em vertiginosas catadupas, a espargirem flocos de cristalinas gotas, coloridas por indiscretos raios de sol que invadem aquelas brenhas, varando folhagens densas. Naquelas fragas, o silêncio só é interrompido pelo canto mavioso da sururina solitária, pelo plangente pio da saracura esguia, senão pelo borbulhar das águas, resultante de inopinados mergulhos de apressadas capivaras ou de raras jaguacacacas (lontras) espavoridas fugindo ao alarido de cães vorazes, estumados por incitadores gritos de caçadores desalmados, verdadeiros sarandas devastadores da pujante fauna com que a natureza pródiga contemplou aqueles soberbos e ditosos pagos.

Desliza o Urucuia em leito sinuoso e irregular, ora entre seixos e serras escarpadas, ora vencendo páramos infindos, em demanda do São Francisco, cujas águas engrossa, pouco acima da cidade do mesmo nome, em Minas Gerais.

Nas cumeadas das serras que formam o vão do Urucuia e à medida que se distancia da margem do rio, a vegetação apresenta-se raquítica, com predominância de extensas catanduvas que se alastram pelos chapadões intermináveis, cobertos de areia movediça, onde prosperam o pau de vinho e outras espécies vegetais características de terra estéril e onde medram ervas venenosas que exterminam rebanhos bovinos, além de outros animais não afeitos À rijeza do clima árdego e seco.

Durante o estio, que se prolonga quase sempre pelos meses de novembro e dezembro, o caboclo cisma e não lança a semente na terra, temeroso de que se inicia novo ciclo de seca que tudo estorrica, reduzindo-se o pujante e caudaloso rio à vexatória condição de tênue ribeiro, (que humilhação!) dando vau em toda sua extensão. Quando isso acontece, o sertão está prestes a ignizar-se. Reúnem-se, então, em piedosas hiperdulias (devoção a Nossa Senhora, grifo nosso) os sofridos e assustados urucuianos e bradam ao céu, com fervor e com desespero, pela volta das chuvas redentoras; em procissões penitentes, sol a pino, levam água para molhar o pé do cruzeiro erigido no cimo do outeiro mais próximo, único testemunho da ardorosa fé reinante nos corações dos sertanejos crédulos, temerosos apenas a deus e à natureza.

No final das piedosas romarias, que se prolongam por vários dias, de volta para seus tugúrios, não raro notam os ingênuos peregrinos que bandos de araras multicores, em alaridos estridentes, imigram da serra, em busca dos seus acolhedores pagos, nos recônditos do vão imenso, por onde corre o imponente rio e onde se abrigam durante o período chuvoso. São as altaneiras aves o prenúncio incontrastável e seguro da chuva farta e próxima. As araras em arribação são a meteorologia viva, adejante e infalível do sertão. Não há quem não acredite na indubitável realidade da alvissareira predição, que enseja providências imediatas a serem tomadas pelo sertanejo traquejado nas lides do campo, como seja o lançamento das sementes selecionadas na terra, há muito preparada por processos empíricos mas saudáveis, rotineiros mas infalíveis.

No sertão a madrugada começa à meia noite. É quando tem início a faina trivial no campo, como sejam a pachorrenta ordenha das vacas, a moagem da cana em época própria, o fabrico da farinha de mandioca, da rapadura, do açúcar, o plantio e a colheita dos cereais que empanturram as tulhas, tudo realizado nos prazos instituídos pelos costumes herdados dos antepassados. As atividades campesinas são exercitadas segundo as condições do tempo, permitidas pelas chuvas e pela estiagem.

Na casa do sertanejo autêntico a candeia é acesa diariamente em duas oportunidades: à noite, antes de recolherem-se as pessoas aos seus aposentos constituídos, quase sempre, de míseros chalos encimados por volumosos colchões de palha de milho esfiapada e na madrugada, ao deixarem suas camas rústicas o caboclo, sua esposa e seus filhos taludos, já refeitos, todos, do cansaço resultante do labor intenso do dia anterior, no eito e no desempenho das demais incessantes labutas do campo.

Salvo motivo ponderável, no sertão todos se deitam logo após escurecer, quando as galinhas já subiram aos poleiros, levantando-se antes que desçam estas ao chão, para debicar os insetos retardatários encontrados no terreiro e antes mesmo de receberem as criações a ração diária, que lhes chega com a claridade do dia, após o desvanecer das sombras da noite e a extinção dos rosicleres (que tem as cores da rosa e da açucena, grifo nosso) que envolvem a madrugada sertaneja.

No passado, não raro algum galo assustado, batendo as asas, lançava no terreiro do sítio, de que é senhor absoluto, o seu canto prematuro, alertando os pais incautos da fuga da sua filha, irremediavelmente apaixonada e do seu namorado romântico, repudiado pela família austera da jovem raptada, oque constituía verdadeiro escândalo no sertão.

A fuga de namorados vai-se tornando, em todos os lugares, em meras reminiscências dos tempos em que o romantismo imperava no amor. Se contrariado fosse esse sentimento, urgia reparar o óbice oposto às suas justas pretensões.. Hoje os jovens já não fogem mais, nem o romance tem as blandícies e os encantamentos de outrora, configurado que era, então, em inocentes e lânguidos olhares lançados de longe, entremeados de suspiros ternos e aspirações indizíveis. Namora-se hoje às mancheias, não se podendo mesmo discernir os corpos dos amantes, que se confundem, nos momentos de êxtase, numa única espiral.

Os galos já não cantam mais nos terreiros dos sítios, prenunciando evento como esse, cada vez mais raro até mesmo nos campos. Nas cidades nem há mais galos. descaracterizados tornaram-se eles, no seu vaticínio de outrora. Relegadas foram às lendas as intempestivas cantigas desse imponentes delatores, como relíquias dos românticos tempos que não voltam mais.

No sertão tudo é autêntico, repudiadas sendo as inovações que atentarem contra os costumes inalteráveis, acatados e seguidos por todos, sobretudo em relação ao tradicional cultivo da terra, de preferência as extensas veigas existentes na região, atividade primordial do rurícola.

O sertanejo genuíno desconhece o adubo artificial que conspurca e envenena a terra, transmitindo aos cereais os malefícios de uma química nociva, que contamina as hortaliças, intumesce os frutos e contagia os grãos, contrariamente à vitalidade do humo natural, fertilizante sadio existente na terra virgem, decorrente da decomposição de inocentes detritos vegetais deixados pela natureza no próprio solo.

Tem vida e tem alma o preparo da gleba para as plantações tradicionais, iniciando-se com a derrubada e consequente rumos produzido pela árvore abatida a machado, caindo entre outras árvores, esmagando os arbustos em derredor, espatifando no chão, quebrando o silêncio da mata e espantando a araponga descuidada que, espavorida e atônita, soltando atito estridentes, foge veloz em busca da solidão, onde o seu canto dolente constitui o único murmúrio a quebrar a monotonia da floresta espessa.

Chegam as chuvas afinal e tudo são alegrias, festas e regozijos no sertão. Transmuda-se, de repente, em auspiciosa e contagiante esperança a tristeza apática do sertanejo bronco e perspicaz ao mesmo tempo. A vivacidade e astúcia que lhe são peculiares, compensam o estudo que lhe falta. Como qualquer outro caboclo, é intrépido, indolente, desconfiado e traiçoeiro.

O mutirão salva, não raro, o lavrador retardatário, apanhado de surpresa pela "traição" de seus vizinhos, companheiros infalíveis nos dias de festas, de abastança. Os folguedos têm início pela madrugada, com cantigas típicas e pipocos de fogos que assustam as cavalgaduras e despertam os inocentes donos da casa.

Segue-se intenso dia de labor, iniciado na madrugada, executando-se o trabalho objetivado, enquanto o azafamado proprietário do sítio "invadido pela multidão de trabalhadores", dá pulos para a armação da barraca e para conseguir, a tempo, o necessário à alimentação de toda aquela gente, além dos intrusos, inclusive para a merenda, uma verdadeira refeição intermediária ao almoço e jantar, afora doces, biscoitos, bebidas e tudo mais indispensável a uma recepção condigna aos bravos trabalhadores. 

à noite é servido o jantar farto e variado em iguarias típicas, regado a cachaça da melhor qualidade, aquela pinga saborosa e pura, curtida em barril de umburana, fabricada em alambique doméstico, sem as contaminadoras misturas que falsificam e deterioram a aguardente a granel, destinada à comercialização. Têm lugar, então, inocentes brincadeiras em meio à festa, ao ritmo da sanfona e da viola plangentes, que arrancam suspiros lânguidos dos corações doridos dos casais enamorados. O fandango,  a catira e outras danças típicas do sertão, são exercitadas sob a barraca de ramos verdes, improvisada e erguida no terreiro, alumiada por candeias alimentas por azeite de mamona e pavio de algodão retorcido, luminária característica dos sertões imaculados, não invadidos pelo progresso que extermina tudo o que é fascinante e autêntico, fluído da natureza inconspurcável.

Participam as mulheres, igualmente, dos mutirões, cardando e fiando algodão, tecendo vistosos cortes de calças e cobertores do mais requintado bom gosto, cantando cantigas tristes, entremeadas de blandícias que vislumbram veladas porfias entre os grupos rivais.

Misturados entre pessoas que trabalharam durante o dia, encontram-se numerosos intrusos, alguns atoleimados e vários bargantes que chegaram somente à tardinha, sem foice e sem enxada, mas com muito apetite e com muita disposição para os achincalhes que, não raro, resultam em indesejável arregaço. Muitos deles vieram de longe, atraídos pela festa, em busca da mesa farta do sertanejo pródigo. Mas as iguarias bastam para todos, com muita fartura e até mesmo com desperdícios. No sertão não há racionamento, não há filas e outros percalços que tanto afligem os sofridos e apressados citadinos, escravos do progresso, das prestações a pagar, sem tempo para terem amigos, sem tempo para viverem.

Violeiros afamados e cantadores famosos, muitos deles repentistas celebrados, revezam-se em porfias durante a noite, na disputa dos aplausos dos circundantes. Não raro, um fuá qualquer provoca reboliço num canto da barraca. É, quase sempre, um namorado másculo preterido por sua eleita, meiga e volúvel como todas as mulheres, surpreendida em colóquios amorosos com um rival abjeto, perrengue mas romântico, sedutor incorrigível, por quem suspiram as inconstantes mocinhas das redondezas. Tamanho ultraje deve ser reparado com sangue do ultrajante, segundo a lei implacável do sertão. Estabelece-se a liça e todas as atenções voltam-se para os contendores, felizmente desarmados, quase sempre. Após ligeiro convício, é retirado da barraca o insolente forasteiro, volvendo a jovem causadora do conflito aos braços varonis do seu destemido pretendente.

Serenados os ânimos, transcorre o pagode sem mais alterações, até o dia seguinte, sol alto, sem esmaecimento, sem desânimo. À hora do almoço, já não há quase ninguém na barraca em demolição e arredores, além de alguns sevandijas descarados, embodegados em vômitos, misturados à lama que os circunda.

Têm lugar os mutirões aos sábados, quase sempre, destinando-se os domingos seguintes ao descanso dos trabalhadores e foliões, ao arranjo das coisas, desfazimento da barraca e colocação em ordem dos desmandos verificados durante a festança improvisada.

Acalmadas as águas despejadas por catadupas que se sucedem em razão dos bruscos e frequentes desníveis do solo por onde corre, continua o Urucuia em seu leito, lentamente, rumo leste, em demanda do caudaloso São Francisco, através dos municípios de Buritis e Arinos, em Minas Gerais, fertilizando grande extensão das terras que o margeiam, propiciando, ao mesmo tempo, peixe abundante às ociosas populações ribeirinhas, que sobrevivem em razão do imponente rio, celeiro inesgotável de todas as tulhas.

No vão do Urucuia não há miséria: há miseráveis, indolentes protervos e mandriãos renitentes, além de pancrácios solertes, com suas chufas ferinas e picantes paleios.

A pesca fácil e a caça abundante garantem a todos subsistência carente de quase tudo, o bastante, porém, para uma vida falta das demais substâncias indispensáveis á sobrevivência e à longevidade. Poucas são as pessoas grandevas (velhas, grifo nosso) na região.

A doença mais comum naquele vão imenso e adjacências é a febre palustre, intermitente e traiçoeira, mas que não resiste a uma infusão de entrecasca de quina, de que existem na chapada espécies miraculosas, como a cinchona, de excelentes e infalíveis propriedades terapêuticas no combate à febre, que incessantemente grassa na região, onde também é conhecida por febre terçã, malária ou sezão. A infecção é causada pelo "plasmodium", protozoário inoculado na pessoa pela picada do anofelino contaminado, mosquito que prolifera nas superfícies de águas cálidas, estagnadas, abundantes nos cafofos, nas lezírias e margens de ipueiras infectas, crestadas pelo calor, notadamente ao término da estação chuvosa.

Os naturais da região parece vacinados contra a doença, que ataca os forasteiros mais do que as pessoas do lugar, imunizadas contra a febre que em certas épocas do ano propaga-se com tal intensidade, que chega configurar surto epidêmico atemorizante, ao invés da costumeira endemia de sempre. O ensalmo é exercitado no combate a outros males, como no caso da mordedura de cobra, no que é infalível, mas o caborje pendurado ao pescoço, não falha em circunstância alguma; nele há fagulhas de mandrágora que ajudam fechar o corpo de sertanejo ingênuo. Mal nenhum o atinge, mas é preciso ter fé. O caborjeiro é o pajé do sertão, um santo. Quase sempre é um curiboca, raramente um cafuzo.

Vivem os urucuianos pobres em míseros casalejos, em autêntico contubérnio e promiscuidade nefanda, aviltantes para o ser humano, à mingua de qualquer resquício de conforto material.

Ao invés de levarem os filhos à escola (poucas existem no imenso vão), ensinam-lhes os pais a haliêutica e o manejo das armas de caça e petrechos da pesca dizimadora da rica fauna ictiológica do rio Urucuia e dos seus possantes afluentes. Toda criança urucuiana é perita em armar uma trápola, um mundéu ou preparar um fojo em lugar adequado. Entretém-se os menores com suas inocentes relas e boizes e com outros brinquedos típicos do sertão.

As choças são erguidas tão próximas ao rio que, nas cheias, dão a impressão de habitações lacustres, sem as palafitas que lhes servem de suportes, bastando um tênue embate de águas mansas, para ruírem os frágeis calujes pendurados nas ribanceiras do rio, sem segurança alguma, sem qualquer proteção para os seus destemidos e negligentes ocupantes. Não tem limite a inópia que aturam a vida inteira. Além das imundícias naturais, aves domésticas, numerosos galgos e esfomeados bácoros promiscuem os casebres aquém dos espojeiros, na disputa voraz de escassas sobras de alimentos em que se atiram com avidez as famintas criações, participantes da miséria que atinge tanto as pessoas quanto os animais domésticos,

É esse o cortejo de penúrias que atura o urucuiano indolente, preguiçoso e justafluvial.

Os fazendeiros abastados, em grande número, levam vida fausta, nababesca em muitos casos.

Fonte: 

Júnior, Ribeiro, Algumas Saudades Apenas, Gráfica UFG, Goiânia, 1985. (todos os direito reservados)




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