José Aluísio Botelho
“Saudade – palavra da língua portuguesa única e concreta que se anima em nossa pele ao desfazer-se em lágrimas rosto abaixo” (Luiz Turiba)
Lembro-me de tudo isso:
Dos anos 60 do século passado em Cristalina. Anos dourados, amores platônicos e impossíveis. Cedo descobri que o mundo não é como minhas vontades e fantasias. Dançar com nossas musas Mary Grant e Remy Bitencourt era suficiente, uma dádiva dos céus. Mary Grant foi embora cedo. Saudades de minha doce colega de ginásio. Não podia esquecer de Remy Bitencourt, linda, envolta sempre no manto diáfano do idílio que enleva e da fantasia que sublima. Creio que elas não sabiam que eram parentes próximas, tanto na belezura, quanto de sangue. Musas foram, para mim, na suave fase da vida, as meigas criaturas que acalentaram os ingênuos sonhos sonhados na infância, despertados para as inocentes carícias e confidências do primeiro amor. Lembrança terna.
O mundo pedia mudanças no comportamento da juventude, que se tornou transviada em muitos lugares mais evoluídos. Cristalina era atrasada ainda, só ouvíamos o rádio, não havia televisão que só chegaria mais tarde. De qualquer maneira, curtíamos o rock e o twist, além da música raiz. Não tivemos o modismo das calças jeans e blusões de couro, tampouco tínhamos dinheiro para nos exibirmos em lambretas e motos pelas ruas da cidade. Por falar em lambreta, certa vez apareceu uma por lá. Ajuntamento de gente para admirar a novidade, entre elas, João Veneno, pai do finado Jonas e de Duvirges, colegas de ginásio, que, deslumbrado, exclamou: “que automovim bunitim!”.
Da fazenda Esbarrancado. Minha fábrica de sonhos. Guardo no canto da memória o álbum de fotografias de cada canto dela. A bela e aconchegante sede, cuidada com esmero por minha mãe. Paro por aqui, saudade doce que traduz tanto amargor! Como dói.
Das ‘comédias’ de Jabuticabas nos quintais preferidos: de dona Rosa, mãe de José David e o da casa paroquial, residência de frei Eustáquio. Em cima do muro de pedra no quintal de dona Rosa, jabuticaba com cachaça. Arre, Dimas Ribeiro! Especial era o quintal de frei Eustáquio. Limpeza geral nas jabuticabeiras. E no domingo, todos na missa, compenetrados, rindo para dentro ou no canto da boca, ouvindo frei Eustáquio, na homilia, discorrer sobre a virtude e o pecado, sobre o crime de apoderar da coisa alheia, sabedor que os infratores estavam presentes na missa. No meu sentir, o que ele queria mesmo era esganar todos de uma vez só. Guardo boas lembranças de frei Eustáquio, holandês, salesiano, corpulento. Quando lecionou matemática, me elegeu seu aluno predileto. Os deveres de casa ministrados por ele, nós estudávamos e resolvíamos em conjunto, as respostas eram exatamente iguais, contudo, ele, sem explicações, me dava nota dez e para os colegas notas inferiores, lembra Osmar Santiago? Certa vez, em festa na fazenda de Sô Jaso Alves, nas Campinas, frei Eustáquio, a certa altura, entrou em um quarto da casa da fazenda, deparou com uma moça da sociedade, com os seios volumosos a mostra sendo apalpados por um rapagão ávido pelos prazeres da carne. Olhos esbugalhados, escandalizado, foi embora indignado.
Das Galinhadas. O furto de galinhas no quintal de dona Luziinha, prima de Adalardo Bispo, pai de Ivan, que morava em frente ao Grupo Escolar. Ela mantinha um galinheiro sortido de penosas gordas, propícias para uma galinhada de primeira qualidade. O obstáculo era os cachorros ferozes que guardavam o terreiro da casa. No dia aprazado para o evento, Luizinho de tenente Pedro, que tinha o dom de hipnotizar os cães e acalmá-los, era escalado para preparar o terreno, para podermos escolher com calma a vítima galinácea. Ele nunca revelou a sua técnica para amansar a cachorrada.
Das Corridas de Cavalos. Fazendeiros do São Marcos resolveram criar uma raia de corrida de cavalos, às margens da rodovia 040, defronte das fazendas de Bena (Inácio Jorge dos Santos) e de Alcides Neiva. A pinga rolava solta entre a peãozada. Cada fazendeiro tinha seu cavalo, Tanico Neiva era um deles: seu cavalo quase não perdia páreo, um campeão, melhor de todos. Certo domingo, Tanico chega e observa o ambiente já com alguma malinesa em mente. Conversa vai, conversa vem, de repente vem a proposta: ele apostava contra seu cavalo. Surpresa geral, proposta aceita, pensando no dinheiro fácil: onde já se viu seu Tanico apostar contra um cavalo campeão? Está bêbado ou delirando. Com uma condição, arrematava Tanico: o jóquei que vai montá-lo é escolha minha. Concordância geral. Ô fulano, traga o Dubelino aqui. Funcionário da fazenda Paulista, alcoólatra, Dubelino, que não conhecia a lucidez fazia tempo, foi colocado no cavalo. Na partida, poeira levantada, visibilidade nenhuma; poeira abaixada, lá estava o cavalo de Tanico pastando calmamente e o jóquei escornado no chão. Ganha a aposta, prontamente Tanico recolhia o dinheiro com um sorriso irônico nos lábios, para revolta de todos. Sacanagem, diziam. Tanico era assim, onde chegava, causos rolava solto, brincava com sacarmos com todo mundo, sem ofensas. Tanico era sinônimo da alegria do riso, do humor sertanejo. Como foi bom conviver com ele.
De Militão Xavier, saudade de você amigo! Sempre sorridente. Tinha cócegas na nuca. Ai de quem ousasse se aproximar, seria trucidado. Certamente Ruth, com jeitinho fez cafuné.
De Roberto Reinaldo. Betim. Soube que ele se converteu a religião dos monges galináceos da Índia, com suas esporas e cristas majestosas.
De Osmar da Rocha Santiago. Mangabé, amigo hors concours.
De Pedro Bagunça, filho de Sô Florisbelo Monteiro dos Santos, Belico, tocador de boiadas, oriundo das bandas de Paracatu. Bagunça era irascível, brigão, bom de bola. No fundo um doce de pessoa, amigo. Hoje, está calmo e terno.
De Solano Abadia, o nosso Lopes, funcionário da farmácia de Fusco, localizada estrategicamente ao lado do bar de Sálvio. Lá ele era balconista, médico prático e consultor informal do patrão que quase levou Biscoiteiro (dos Ribeiro) a ruína ao lhe receitar um Lacto-Purga para dor de cabeça, decorrente de uma noite na esbórnia. Solano atestou a eficácia do remédio receitado por Fusco, levando Biscoiteiro a permanecer horas e horas no sanitário.
De Dimas Ribeiro. Velho amigo. Me protegia sempre diante dos perigos de uma bebedeira além da conta. Quando debutei na boemia, ele me levou carregado para casa pelas ruas às escuras - naquele tempo a energia era desligada às dez horas da noite. Lembro-me de uma festa na minha casa, minha mãe fez quentão, misturaram cachaça às escondidas, foi um porre geral: as garotas ficaram de pileque. Fiquei totalmente embriagado. Dimas me levou para correr no quarteirão dos Thompsons, ajudado pela bela Remy Bitencourt, antídoto especial para curar-me da ‘carraspana’.
De Rubão Nazareth. Pouca gente sabe seu nome completo: Rubens Sérgio. Arguto observador do cotidiano cristalinense, que transformava em piadas de primeira qualidade, em causos hilariantes. Se tivesse seguido seu veio humorístico, artístico, estaria hoje entre os grandes do humor nacional. Cozinheiro de mão-cheia, detestava cebola. Sentia o cheiro da leguminosa a quilômetros de distância. Convivo com ele até hoje. Na Cristalina de meu tempo, houve outros reis do riso, que homenageio: além de Tanico, Evaldo Neiva e Antônio Poteiro, este inigualável. Criado na família de meu avô Juca Botelho em Paracatu, veio jovem trabalhar com ele em Cristalina. Suas piadas e causos tinham, invariavelmente, meu avô como protagonista.
De Sô João Silas. Contava ele que era paulista, que tinha sido craque de bola e que jogou no clube Palestra Itália, hoje Palmeiras. Largou tudo e veio para Cristalina, casou com dona Otília, dos Borges da região limítrofe de Ipameri. Teve prole numerosa, todos os filhos bons de bola: Lélio, Lenir, Léliton, Léo. Diziam que meu amigo Leon foi o melhor de todos. Teve doença incapacitante e abandonou o esporte. Seu João Silas era rábula com profundos conhecimentos jurídicos. Participava do tribunal do júri, defendendo os necessitados e prestava assessoria à prefeitura. Vereador em um tempo que o cargo era honorífico, não remunerado. Viveu pobre com dignidade de um homem probo, virtudes repassadas aos filhos.
Por falar em futebol, lembro-me de alguns craques que compunham o grande time de Cristalina daquela década: Zé de Fayad, Fio Peixoto, ótimos goleiros, Tuna (saudoso Fortunato), Lenir, Divino, Neco, Lélio, Nenê de Spina, Dorcil e muitos outros que não consigo nomear. Nomeie você leitor.
De Maninho Resende. Coroinha de frei Eustáquio, tinha acesso fácil aos vinhos da sacristia, que saboreávamos às escondidas. Lá vinha repreensão do padre. Certo tempo, ele foi porteiro do cinema, sob a gerência de João Abadia e sua indefectível gravata. Ele sempre arrumava um jeito para eu entrar de graça nos filmes menos concorridos, ao menor descuido do chefe. Também permitia que eu assistisse aos filmes proibidos para menores de dezoito anos, sempre às escondidas.
Das Sirlene. Sirlene, filha de Argemiro de Paula Sousa, colega desde o grupo escolar, esposa de Ruizinho Cortes. Tornou-se vereadora a vida toda, segundo soube. A outra Sirlene, tia de Alvani de Sô Alvaci mecânico, amiga da gente, não sei que rumo tomou.
De Nei. Sempre lembrado. Alegre, risonho, de fino trato. Adorava passarinho na gaiola, num tempo permissivo. Velhaco manso, consta que passou a perna em cigano, vendendo pássaro-preto como se fosse bicudo, ave nobre, raro, de canto melodioso. Um dia, pedi ao meu pai que comprasse para mim. Ele me levou até Nei, que me vendeu um, segundo ele, dos melhores que possuía, cantava que uma beleza. Nunca cantou. Dizem que morreu quase centenário: mereceu viver tanto.
De João de Silivero. Quem não se lembra dele? Fino trato, bichano de estimação. Ele era especial entre a rapaziada rumo à adolescência. Certa vez, em data comemorativa, penso que em alusão aos sete de setembro, dia da pátria, houve uma corrida de resistência. O percurso, grosso modo, era no sentido da rua 21 de abril, passando pela rua Getúlio Vargas e retornado pela antiga rua Rui Barbosa até o ponto de chagada na praça José Adamian. João de Silivero resolveu se inscrever. Vestido com uma bermuda psicodélica (como se dizia na época), ele se alinhou para a corrida, defronte a casa de Zé Gordo. Dada a largada, saiu em disparada, mas a resistência física negou-lhe folego. Não suportando o cansaço, parou, olhou para os lados e saiu rebolando para delírio da plateia.
De Zé da Binela (seria Binera?). Dona Binela vivia em uma casa na rua Rui Barbosa, hoje Augusto Peixoto, acima da residência de Geraldo alfaiate, casado com Nininha, filha de Adílio Côrtes. Ela sobrevivia vendendo o chamado sabão de sebo, de odor desagradável, cuja matéria-prima eram vísceras de animais, geralmente bovinos. Tinha um filho, conhecido como Zé da Binela, que diziam ser ‘amigo do alheio’. Vez por outra ele sumia da cidade. Diz a lenda que ia cometer delitos em cidades vizinhas, para preservar a mãe, bem como para evitar ser preso em Cristalina. Olhos penetrantes, gazos, metia medo. Não soube o que aconteceu com ele na marcha da vida.
Pagodes. Volta e meia havia festas no povoado do Resfriado, situado quase nos subúrbios de Cristalina, mas pertencente à Ipameri, coisas de limites geográficos entre os municípios. A impressão que lá era mais frio que Cristalina. Festas animadas, sem animosidades. O Resfriado em 1953 passou a se chamar Domiciano Ribeiro, homenagem ao velho garimpeiro Domiciano, que em 1925, quando Cristalina ainda engatinhava, exercia o ofício de sapateiro. Montado na garupa do Cristal, foi eternizado. Casado com dona Francisca, pai de Air e Joaquim Tiradentes, dizem que morreu soterrado quando procurava, incansável, o precioso quartzo. Mais adiante, em direção de Catalão, onde hoje existe posto de combustível, havia festas na casa de Zé Colodino (ou Zé Claudino, segundo Ivan Bispo), pagodeiro de mão-cheia, pai de uma penca de filhas prendadas e casadoiras, entre elas, Olga, colega de ginásio.
De Dioripes, baiano, mulato, corpulento, de pouca prosa. Vivia com a família em sua fazenda às margens da Br040 sentido, Luziânia. Resolveu montar casa para a filial na cidade. Não demorou, contratou sociedade sem saber. Adônis, nosso Casanova, tornou-se sócio minoritário e dava assistência regular na ausência do titular. Avisaram Dioripes: “abra o olho com a filial”. Dioripes murmurou agradecimento pelo aviso e armou flagrante. No dia aprazado chegou sem sobreaviso. Adônis pulou da alcova, esbaforido, mas não deu tempo de empreender fuga. Correu para o quintal, escondeu numa moita de bananeira. Dioripes, lanterna na mão esquerda, trezoitão na direita, encaminhou para lá, alumiou o local, encontrou Adônis, sorriso largo e amarelo, suando em bicas, pressentindo a morte iminente. Dioripes, paciente, examinou o rosto da vítima, vasculhou a memória, reconheceu seu sócio indesejado, e, proferiu, não o tiro fatal, mas as palavras: “só não te mato porque você é filho de Joaquim Nazareth, suma já”. Adônis se escafedeu sem olhar para trás. Não me lembro se Dioripes fechou ou manteve a filial em atividade.
Dos Peixoto. Sô Lindolfo Peixoto dos Santos e dona Joviana, mulher especial, terna, finíssima, adorava ela. Vizinhos de muro. A Peixotada, tudo gente boa. Cileneu, Augusto, João, Hamilton, Heraldo, Fio, Zulca casada com Chico de Paiva e Zezão, o caçula. Sô Lindolfo gostava de jogar truco com os filhos e os amigos. O Truco se desenvolve em silêncio, mas na hora decisiva é uma gritaria dos diabos. Certa vez, carteado correndo solto, Sô Lindolfo, acreditando ter o naipe de cartas vencedor nas mãos, resolve aumentar a aposta e grita: truco! Por norma sempre tem um adversário com outro naipe superior para responder o desafio. Zezão tinha e retrucou o pai, a emoção aumentando, gritaria também, perdendo a noção do respeito: “vale seis, seu ladrão, safado, rato de igreja" e por aí afora nas obscenidades contra seu genitor. Só parou quando sentiu a dor de uma bofetada no rosto e as palavras desabonadoras: “me respeite que sou seu pai”. Sem clima para prosseguir, o jogo acabou.
Da Casa 3 Montanhas. Situada na rua Goiás, de propriedade de Sô Azevedo, educado na atenção aos fregueses, empregava muita gente. Sua loja foi a maior de Cristalina naquele tempo. Em extensão, de comprido parecia ser maior que a cidade. Já idoso, adquiriu um Karmann-ghia vermelho, carro esportivo, coqueluche na época entre os endinheirados e saiu à procura de amores furtivos nas beiradas da cidade. Nunca mais tive notícias dele.
Da promotora Marilda e a zona do meretrício. Naquela época os bordéis de Cristalina eram no centro da cidade, na rua João José Taveira, no quarteirão acima da rua Goiás até a rua Minas Gerais. A promotora Marilda, moradora no hotel Central, solteirona convicta, defensora da moral e dos bons costumes, promoveu uma perseguição implacável contra a presença deles. Onde se viu? Prostíbulos misturados com casas de família? Não podia não. Conseguiu seu intento, acabou com a zona na área nobre, empurrou os puteiros para as calendas da periferia da cidade, sem infraestrutura nenhuma, nem água havia para a higiene das ‘meninas’ entre um freguês e outro. Por falar nisso, nunca esquecerei de Lourdes, chamada por nós de 'Dona, Véia Lourdes', a decana dos lupanares daquela época, professora da rapaziada em transição de João de Silivero para as meretrizes. Tampouco da venda de Zé Curí (Cury), no centro do quarteirão. Lá se encontrava quase tudo, mas era uma desordem total, difícil encontrar o que se procurava. Eu ia lá de cabeça pensada, sempre que tinha oportunidade, comprar anzóis, linhas e chumbadas para a pesca na fazenda, para poder apreciar a 'meninas' seminuas nas portas das casas, aguardando a noite cair e a chegada dos fregueses habituais. A propósito, Sô Carritinho, no alto de seus setenta anos, sempre com sua velha máquina fotográfica a tira colo, volta e meia aparecia no bar do Sálvio com novidades excitantes para a garotada impúbere. Ele arrumou um passatempo inusitado para tocar o lusco-fusco da vida: fotografar as partes íntimas das mulheres permissivas dos rendez-vous, que aceitavam servir de modelo para seus ensaios fotográficos libidinosos. Com um sorriso de satisfação nos lábios, nos mostrava as fotografias excitantes, em uma época que as mulheres ainda não tinham o hábito de capinar o matagal. Ereções de desejos.
Lembro-me, também, de Ana Tieta (nome fictício), mulher comprometida, moradora no centro. Adolescente, quando passava defronte a seu alpendre, ela se insinuava cantando o refrão de um sucesso de Tião Carreiro, assim: “Cabelo Loiro vai lá em casa passear, vai, vai, cabelo Loiro acabar de matar”. Eu era loiro tirante a ruivo. Um dia, perguntei-lhe: posso ir? Ela se recolheu, nunca mais cantou para mim.
Do velho Thompson, taciturno, inteligência privilegiada, criava e inventava engenhocas à frente de seu tempo, como a radiola futurista que parecia uma nave espacial, que funcionava à perfeição, onde ouvíamos as primeiras canções revolucionárias que chegaram à Cristalina, como, por exemplo, “Para não dizer que falei das flores” de Geraldo Vandré?
E, porque não lembrar do campeonato pecaminoso nas escadarias da igreja da Cristalina Velha, em noite de luar. Vencia quem fosse o mais precoce. Deveria ser o oposto. Pecado capital: Ah, se frei Eustáquio soubesse, excomunhão na certa. Elegia eterna frei Eustáquio Van der Weiff.
Chegada do homem à lua. Tempo de férias escolares, já estudava em Brasília. Feito histórico para a humanidade. Precisamente em 16 de julho de 1969 o homem pisa na lua pela primeira vez, Apolo 11, Neil Armstrong. Raros aparelhos de TV existiam nos lares cristalinenses. Os que haviam funcionava de forma precária. Instalaram uma TV junto a torre de retransmissão lá no alto da cidade, para podermos constatar o feito histórico, inimaginável. Os mais velhos morreram sem acreditar na façanha, como sô Simão. Finda a transmissão, dirigimos para nosso local de bate-papo: esquina de Hélio Xerém e do hotel Piramidal. Conversa vai, conversa vem, chega Toninho de Abrão Pombo (Attié), mancava um pouco da perna, colega de escola, se ajunta na turma. Coloca a mão em concha na testa para enxergar melhor, fita a lua demoradamente, volta para turma e indaga convicto: “E se eles despencarem lá de cima?” Diante da dúvida, alguns ficam atônitos, outros caem na risada, seria melhor todos se dispersarem, ir dormir e sonhar com o futuro. Toninho ainda não havia estudado as leis da física, tampouco cosmologia. Está desculpado Toninho.
Depois conto mais, talvez…
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