Por
José Aluísio Botelho
Resgatamos,
após minuciosas pesquisas, alguns escritos de
Olympio Gonzaga que se encontravam desaparecidos, dentre eles,
crônicas que escreveu para seu livro não editado, Lendas do Brasil Central, transcritas na grafia original, tal como ele as concebeu, sem correções ortográficas e gramaticais, para que nossos leitores avaliem a qualidade dos textos e sua importância para a história de Paracatu.
Olympio Gonzaga que se encontravam desaparecidos, dentre eles,
crônicas que escreveu para seu livro não editado, Lendas do Brasil Central, transcritas na grafia original, tal como ele as concebeu, sem correções ortográficas e gramaticais, para que nossos leitores avaliem a qualidade dos textos e sua importância para a história de Paracatu.
Crônica
(transcrição)
OS
CANGACEIROS CELEBRES DOS SERTÕES DO URUCUIA
Considerações
Para
as Lendas do Brasil Central, pelo historiador Olympio Gonzaga, membro
da associação de Imprensa, dos Institutos Historicos e Geograficos
Nacional, de Minas Geraes, Genealogico de São Paulo, etc. Cidade de
Paracatu em Minas Geraes. Exposto à venda com o autor.
Na
luta pela vida, de posse de meu titulo de Normalista pela Escola
Normal de Paracatu, Em 1º de Junho de 1898, na casa que hoje me
pertence, junto com meu amigo e colega Manoel da Silva Neiva Neneco,
fui nomeado professor publico primario da cadeira do sexo masculino
no distrito de Rio Preto em Capim Branco (Unahi), tendo entrado em
exercicio no dia 1º de Maio de 1900 até 1912, na edade de 23 anos.
Em 6 de Março de 1902 casei-me com Laura Vieira Gonzaga, filha do
fasendeiro Manoel Vieira Diniz e Da. Regina de Sá Guimarães.
Foi
ahi que publiquei meu primeiro livro MEMORIA HISTORICA DE PARACATU,
que serviu de grande propaganda, levando o nome de Paracatu e de seus
filhos ilustres a todos os recantos do Brasil. Foi o maior feito de
puro patriotismo de minha parte, tendo recebito honrosissima carta do
Dr. Ramyz Galvão, Presidente do Instituto Histórico Nacional,
acompanhado de valiosos brindes 14 volumes literarios.
Os Cangaceiros celebres
do vale do rio Urucuia
Durante
minha estadia em Capim Branco, Unahi (1900 a 1912), fiquei conhecendo
pessoalmente quasi todos os os cangaceiros celebres do Urucuia:
Americo de Queiroz, Ermelindo, João Pirahi, Demetrio Ribeiro(que
foram jagunços de Santos Roquete), Firminão, Faustino Preto, Salé, Sacerdote, José Vaqueiro, Vicente Vaqueiro(assassinos do fasendeiro
e farmaceutico Nestor de Palma para roubar a casa) e muitos outros
facinoras celebres, os quaes deram que fazer a policia mineira em
varias emboscadas nos anos de 1912 a 1922.
Americo
de Queiroz residiu em Capim Branco em 1908 com sua família, idade de
23 anos, bom ferreiro, trovador ao violao, com seu primo ajudante de
oficio Deusdedit Africo da Silva, tambem bom cantor de modinhas. A
esposa de Americo Dona Palmira era uma senhora clara, fransina, de
cabelos pretos de um metro de comprimento, dois filhos travessos
Getulio e Deodato de 4 e 6 anos de edade.
Muitas
vezes o Americo de Queiroz foi meu companheiro de caçadas e
pescarias nas muitas matas, cachoeiras e tinguijadas de lagoas.Esta
família teve um fim tragico nestes sertões selvagens, assassinados,
inclusive dona Palmira, que abortou ao ser sangrada como um porco e
foi tirada a piruca de sua cabeça com longos cabelos pelo malvado
Ermelindo.
Higino
da Rocha foi homem de fortuna abastada, fasendeiro com cerca de duas
mil cabeças, negociante no arraial de Burity à margem esquerda do
rio Urucuia.
Foi
este homem arbitrario, velhaco, provocador de questões, quem seduziu
e poz Americo no mau caminho, tendo levado Americo e sua família e
Deusdedit para o arraial de Burity, como jagunços, vencendo ordenado
de Cr$300,00 por mez cada um deles.
O
arraial de Burity já teve nome, já teve fama em 1820, possuindo uma
população de duas mil pessoas, 580 casas, quando dominava o chefe
politico mandão do Urucuia Cel. Pedro Cordeiro Valadares, que se
casou com sua neta Maria à viva força.
No
ano de 1895 o coronel Candido José Lopes professor publico do logar,
casado com a abastada fasendeira Maria Bita, foi as instancias
pastoris de Uberaba e trouxe de lá uma leva de reprodutores
indianos, sendo a primeira que entrou nestes sertões, para a sua
fasenda Pernambuco e poucos anos depois vendeu para o Sr. Pedro
Brochado 1500 bois mestiços, sendo adimirados. Foi um negocio da
China, vendendo reprodutores para seu primeiro sogro residente na
fasenda da Serra sr. Marcolino de Queiroz, Higino Antonio da Rocha,
Enéas Alves de Sousa, Joaquim Rodrigues da Rocha (agente do correio
e escrivão de Paz), Raimundo Prado, Marcos da Rocha, capm. Heliodoro
Teixeira, capm. Claro Pereira da Silva, Sabino Rodrigues, José
Joaquim Ramos (José Rico) etc.
Por
questões de gado, Higino da Rocha conseguiu as prisões de seus
primos José de Queiroz e Vitalino de Queiroz, tornando-se inimigo de
seu tio Marcolino de Queiroz.
Em
assertos de contas Higino da Rocha logrou Americo de Queiroz e
Deusdedit, tendo ficado inimigo do primeiro, tendo colocado Deusdedit
como jagunço, para de violão ao peito cantar e divertir a
freguesia, com a carabina ali perto. Américo morava em frente ao
grande comércio de Higino e fez certeira pontaria em Deusdedit,
prostrando-o morto e fugiu para a cidade de Formosa e foi reunir
jagunços.
Na
cidade de Formosa que fica a 120 Kilômetros de distância, Americo
de Queiroz reuniu vários celerados, facinoras da peor espécie:
Sacerdote, com cara de bobo, de uma sagacidade espantosa, facinora
perigoso; Faustino Preto, um cara mal encarado que tinha no lombo 18
mortes; Salé, cujo nome era Clemente da Silva, com várias mortes;
Hermilão ou João da Silva; Joaquim, cujo nome é Martinho; Cirilo
de Barros e outros cangaceiros perigosos, todos eles são naturaes da
povoação da Serra das Araras, nas fronteiras dos Estados de Minas e
Bahia, a terra do famoso Antonio Dó, cujas façanhas ficaram
celebres nas cidades de São Francisco e Januaria.
O
Higino da Rocha estava em sobre saltos, recioso de um ataque de
surpresa do Americo, devido as más notícias que corriam, tendo
posto seu jagunço Hermelindo vigiando a estrada de Formosa, era um
facinora que tinha no lombo 3 mortes. No dia 10 de Março de 1911,
numa risonha manhã, cheia de luz, Hermelindo divisou ao longe
dessendo a serra nove cavaleiros com armas alumiando ao sol e foi
correndo em sua montaria avisar os fasendeiros Higino da Rocha e o
coronel Cândido José Lopes.
Era
a quadrilha comandada por Americo de Queiroz, que foi chegando e
fasendo fogo na casa de Higino, que respondeu ao tiroteio com nutrido
fogo entrinxeirado em todos os angulos da casa. Foi um espectaculo
horrível de fazer pavor. O povo do arraial de Burity fugiu para os
matos, dona Amalia, professora pública, trancou-se na escola com
cerca de 40 alunos de ambos os sexos, em crise nervosa, gritando por
Nossa Senhora; o coronel Candido Lopes atravessou o rio Urucuia para
o outro lado com sua familia e valores, tendo o cuidado de esconder
as canoas do outro lado.
Americo
em desespero de causa pretendeu derribar a porta, mas foi impedido
pelos seus companheiros; 12 carabinas novas, Winchester eram supridas
de balas pela dona Maria, mulher do Higino e seis pessoas respondiam
ao fogo.
Acabada
a munição de Americo, não pode atacar a casa de Candido Lopes e
nem atravessar o rio Urucuia, indo todos eles roubar todas as casas e
animais cavalares nos pastos, cerca de 50 cavalos e burros, voltando
para Formosa.
A
quadrilha de salteadores praticou uma limpa geral em todas as casas
do arraial de Buriti, até a santa Nossa Senhora da Penha foi roubada
de sua coroa e calice de ouro etc.
Milagrosamente
os dois fasendeiros referidos salvaram a vida.
São
assim as vinditas dos sertões selvagens e ninguem tem garantias,
nem mesmo as pessoas ricas; o seu ouro disperta a cubiça dos ladrões
salteadores de estrada.
Ficar
de braços cruzados deante de um perigo destes não pode ser. É
preciso reagir; é preciso vingar as afrontas sofridas, para não
repeti o assalto, o perigo de vida.
A
PERSEGUIÇÃO A AMERICO DE QUEIROZ E O MASSACRE DE SUA ESPOSA DONA
PALMIRA NAS PROXIMIDADES DO RIACHO-FUNDO
Os
lampeões assassinos polulam por estes sertões selvagens. Com os
meus escritos documentados para as LENDAS DO BRASIL CENTRAL, estou
fornecendo fontes preciosas para os escritores futuros tesserem belos
romances. Eu não inventei a presente narrativa das cenas barbaras
destes sertões; apenas coligi os factos narrados por testemunhas.
Passado
o estupor, o medo, o horror do tiroteio, da quadrilha de Americo de
Queiroz, os dois fasendeiros ultrajados combinaram a vingança,
reuniram jagunços e mandaram matar Americo de Queiroz, fosse ele no
inferno.
Dona
Maria Bito, filha de Antonio Bito, esposa de Candido Lopes, sapateou
de raiva, foi criada na Serra das Araras, aonde não se aguenta
disaforo; mandou buscar o pai, irmãos e jagunços na Serra das
Araras preparou matula de carne seca suficiente, poz cinco contos de
reis, ou cinco mil cruzeiros nas mãos de seu pai e despachou seis
homens, bem armados no encalço de Americo, que já tinha fugido na
direção de São José de Tocantins, com sua mulher, dois filhos, 4
camaradas e oito cargueiros, animaes à deixtra (?), etc.
As
onças estavam sedentas de sangue no rastro do viado, viajando dia e
noite, aproveitando o luar. A comitiva do Americo passou aqui, pousou
ali. Alta noite viram as barracas de Americo, cerca de dois
kilometros distante da ponte do Riacho Fundo, logar este que serviu
de trincheira, para uma emboscada em Americo. As 8 horas do dia 30 de
Março de 1911 Americo com sua gente seguiu viagem, tendo antes dona
Palmira lhe contado que havia sonhado que tinha sido assassinada com
seu marido, salvando-se seus filhos e camaradas.
Americo
viajava na frente da comitiva, dona Palmira vinha cerca de 50 metros
de distancia, seus filhos Getulio, Deodato e quatro camaradas vinham
mais atraz, tangendo os animais da comitiva. Foi quando Americo ao
atravessar a ponte do Riacho Fundo recebeu uma discarga de carabina,
saltou no rio, mergulhou com a carabina na mão, sahiu e embrenhou-se
no matagal, falecendo. Todos correram para traz sumiram no cerrado,
porem dona Palmira foi alcançada pelos jagunços e sangrada como se
faz a um porco por Ermelindo, abortando ao morrer.
Esta
fera humana tirou a piruca da cabeça de dona Palmira com tranças de
um metro, salgou-a e foi levar este trofeu macabro à Higino da
Rocha, que recuou horrorisado dizendo: Isto em casa faz azar eu
queria era a orelha de Americo. Higino da Rocha cortou volta e não
pagou os dois contos de reis a Ermelindo, que foi à Formosa ajuntar
jagunços para se vingar de Higino da Rocha. Desde este dia que
Higino da Rocha não teve mais tranquilidade, nem paz de espirito.
Os
fasendeiros de S. José do Tocantins, no Estado de Goiaz, coronel
João Taveira, Luiz Taveira, o filho José Taveira e mais pessoas,
que encontraram os cadaveres de dona Palmira e de Americo, devorados
pelos urubus e deram sepultura aos mesmos estragados pelos urubus,
tendo ficado assombrado durante dias e noites o José Taveira. Quem
passa para a romaria do Muquém se descobre em frente a cruz de dona
Palmira e recorda as cenas barbaras ali praticadas em 30 de Março de
1911, tendo Ermelindo levado a piruca da cabeça de dona Palmira.
O
rio Riacho Fundo fica 50 legoas de distancia da cidade de Formosa,
na encrusilhada das estradas para a romaria do Muquém e para a
cidade de S. José do Tocantins.
Si
Americo ia fugindo para muito longe, para que esta perseguição
atroz e o massacre de sua família?
Os
filhos de Americo que tinha 8 anos o Getulio, 10 anos o Deodato estão
vivos e residem nos sertões de Goiaz.
Ermelindo
a fera humana contou que dona Palmira foi morta por ele a coices de
carabina sangrada e pisada no ventre, tendo abortado uma criança do
sexo masculino viva, que foi abandonada com o cadaver de sua mai, que
fez caretas ao ser tirada a piruca de sua cabeça.
O fasendeiro Higino da
Rocha perseguido pela quadrilha de Ermelindo de Sousa fugiu de casa
vestido de mulher, de barbas raspadas, embuçado de chales, com a
carabina escondida debaixo da saia, gripado, sofrendo de diarreia.
A
Historia dos cangaceiros celebres do Urucuia, tem episodios
engraçados, jocosos, de fazer rir, dignos de nota.
Diz
um rifão (sic): “Si o velhaco soubesse o quanto perde em ser
velhaco, seria homem de bem mesmo por velhacaria”. Pretendente ser
muito esperto e ladino em lograr os outros, Higino da Rocha teve que
fechar o negocio, e se viu só, isolado de todos, na hora amarga e
dificil das perseguições de Ermenlindo de Sousa, com seu bando de
salteadores: Faustino Preto, hermilão, Salé, Sacerdote, Cirilo de
Barros, Joaquim Sangrador, sedentos para tirarem uma desforra no
Higino da Rocha, o tratante velhaco.
Muito
perseguido, correndo perigo de vida, Higino da Rocha não sabia mais
aonde se esconder de Ermelindo, achando-se enfermo, gripado, diarreia
fetida, entestino infexionado, vestido de saias, barbas raspadas,
embuçado num chales, com o corpo doendo, moido de dores. Foi se
esconder de Ermelindo e sua quadrilha ora na casa de um parente, ora
de outro, ou de um conhecido, fugindo para outra fasenda, quando
desconfiava ser descoberto.
Higino
da Rocha, que faleceu na fasenda da Serra e foi sepultado em
Paracatu, repentinamente, quando estava ajuntando jagunços para
matar o fasendeiro visinho Francisco dos Reis Calçado, era de cor
morena, dentes limados, como piranha, de barbas pretas, alto, magro,
quasi preto – era uma figura exotica, engraçada, parecendo Judas
em Sabado de Aleluia, vestido de mulher, sem seios, sem cadeiras e a
sua carabina escondida debaixo da saia, completava a figura exotica
deste medroso.
Os
sequases de Ermelindo estavam sequiosos para deitar as mãos e
sangrar Higino da Rocha, apoderando-se do bolo de notas que ele
trasia sempre no bolso. Era mais que justo o receio, o medo deste
patife.
A
vida é amavel; quantas pessoas no mundo salvaram a vida com uma saia
de mulher? Foi assim que o Higino da Rocha resolveu caminhar cinco
legoas a pé, disfarçado em mulher, doente, até alcançar a fasenda
do Pé da Serra de seu tio Marcolino de Queiroz, seu maior inimigo,
desde que levou presos à Paracatu, seus primos José e Vitalino de
Queiroz, como ladroes de gado, quando as reses morreram de herva
venenosa e de cobra, sendo postos em liberdade, mediante uma petição
de HABEAS-CORPUS.
Eram
onze horas da noite, quando Higino foi se prostar de joelho aos pes
de seu tio Marcolino, abastado fasendeiro, pedindo perdão, pedindo
misericordia, com os sequases de Ermelindo no seu piso, no seu
encalço para sangral-o, para linchal-o, para roubar o dinheiro que
trasia com sigo.
Durante
o espaço de tres dias e tres noites Higino respirou sossegado na
casa do seu tio Marcolino de Queiroz, tomando alguns chás beneficos
ao mal que estava sofrendo; mas aquela diarreia podre ninguém podia
suportal-a. O enfermo, na escuridão da noite, com o luar embaçado
pelas nuvens, foi no terreiro, junto a uma moita de algodoeiros,
fazer dejeções.
Ermelindo
tinha apanhado a batida da caça e queria arrancar-lhe a cabeça com
seu facão afiado e uma bala.
Higino
sem saber procurou os algodoeiros, foi quando ouviu a voz imperiosa
de Ermelindo: Oh velha do diabo vai procurar outro lugar, sinão eu
lhe amaço com meu facão.
Higino,
vestido de mulher, ajuntou a saia e correu para dentro da casa,
caladinho, poz uma panela à cabeça, armou a carabina debaixo da
saia, seguiu para o corrego, tendo ouvido novamente a voz de
Ermelindo: a velha parece lobishomem, vir buscar agua estas horas da
noite e gargalhadas dos jagunços. Higino, tremendo de medo, tomou
uma trilha beirando corrego abaixo, caminhou treis legoas e foi sahir
na casa do fasendeiro Martinho dos Santos, a quem lhe entregou
duzentos mil reis para emprestar-lhe roupas de homem e condusil-o à
casa do professor Olympio Gonzaga em Capim-Branco, a quem contou
todos os factos acontecidos e narrados nesta cronica.
Higino
da Rocha, chegando em Paracatu, comprou a casa do sr. Manoel Borges,
no Largo da Abadia, para colocar a família e negocio vindo do
arraial de Burity.
Higino da Rocha procurou
o Delegado Especial Capitão Afonso Elias Praes (seria Paes?), deu-lhe avultada
quantia para exterminar, liquidar Ermelindo com seus cangaceiros, que
estavam matando seu gado de criar para vender a carne, no arraial de
São João do Pinduca e Formosa.
O
capm. Afonso Elias Praes, em sua viagem ao distrito do Rio-Preto,
passou em casa de alta personagem politica, recebeu boa gorgetagem,
prendeu e fusilou os fasendeiros Adelmar Farago, Aliryo Farago, no
largo da fasenda, aos gritos e choros da extremosa mãi, cujo crime
foi fazer concorrencia na compra de novilhos e bizerros. O poderoso
fasendeiro não queria concurrentes em suas compras de seus
empregados.
O fasendeiro da Agua
Doce Sr. Cipriano Lemos de Prado tambem estava na pauta para morrer,
outro comprador de gado. E assim é que os mandões destes sertoes
praticaram crimes hediondos, que ficaram impunes, de parceria com a
propria policia.
Era
Sabado de aleluia de 1911, no arraial de São João da Pinduca,
Ermelindo com seus jagunços estavam em libaçoes de alcool, dançando
e cantando, comendo churrasco de carne assada, gado do Higino da
Rocha, com os bolços cheios de dinheiro de rezes vendidas do Higino.
No meio dos dançantes, da folia, estavam vários fasendeiros -:
Natanael Lobo, filho do coronel Herculano Lobo, João Apolonio,
Possidonio Guaraty e outros.
A
fogueira crepitava no terreiro, com espetos de carne, o churrasco
predileto; salva de tiros de carabina para o ar; o caixambú trova;
palmas cadenciadas; cantorias, sapateados de danças de sala,
cateretês, ditos chistosos, gargalhadas. Regulava meia noite quando
Joaquim Soldado, guia secreto do capm. Praes, ganhando um conto de
reis, chegou no arraial de São João do Pinduca e pediu pousada,
sendo interpelado por Ermelindo, tendo respondido que estava
contratando novilhos para seu patrão, que ficou em Capim Branco.
Alguns sequases mais desconfiados combinaram secretamente a fuga:
Salé, Faustino Preto, Fausto de tal, Sacerdote e outros escapuliram,
sem os outros saberem.
Ermelindo
aos 18 anos, ja contava 18 mortes, Joaquim Mironga tinha 8
assassinios; Cirilo de Barros era autor de duas mortes, Clemente da
Silva era cumplese em 20 mortes; Faustino Preto era autor de 18
mortes; Sacerdote tinha no lombo 16 mortes e era o mais sagaz e
astucioso de todos com aquela cara de bobo; Hermilão com 2 mortes,
Salé ou Custodio da Silva era cumplise em 20 mortes; Fausto Preto
era um preto mal encarado, terrivel, contando 28 mortes e foi quem
matou o negociante fasendeiro Elias Turco, no curral desleitando uma
vaca, e matou uma velha para roubar-lhe os brincos, cordoes de ouro
do pescoço e 10$500 em dinheiro.
Ao
clarear do dia, Domingo da Ressurreição do ano de 1911, a casa de
festa foi cercada por 8 soldados do Delegado, capm. Afonso Elias
Praes, fechou-se o tempo, houve vários tiros, ficando ferido na
perna o valente Delegado Praes.
Quatro
fasendeiros, que foram na onda com o jagunços, para salvar a vida
tiveram de pagar dois contos de reis cada um atraz referidos e quatro
jagunços foram passados pelas armas e jogados em um valo para
morrer; entretanto Ermelindo tinha no dedo um anel misterioso de rabo
de Tiú, um cinco salomao, que o impediu de morrer, enquanto não foi
retirado.
Na
volta do capm. Praes, passou em Capim Branco, jantou na nossa casa,
contou todos os factos acontecidos, o massacre de Ermelindo e sua
quadrilha. Disse mais que iria matar Cipriano Lemos do Prado ao
clarear do dia seguinte.
Furtivamente
eu Olympio Gonzaga, mandei Juvencio Peixoto levar um bilhete e salvei
sua vida, tendo Cipriano Lemos do Prado, fasendeiro na Agua doce
fugido na mesma noite para a chapada do Catingueiro.
Os
cangaceiros que fugiram do cerco do capm. Afonso Praes foram praticar
outros crimes, outras tropelias, matar o fasendeiro Nestor da Palma
para roubar.
Fonte: Biblioteca nacional do Brasil, Divisão de Manuscritos - Afonso Arinos na intimidade, de Olympio Gonzaga.
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