Por José Aluísio Botelho
Resgatamos, após minuciosas pesquisas, alguns escritos de Olympio Gonzaga que se encontravam desaparecidos, dentre eles, crônicas que escreveu para seu livro não publicado, Lendas do Brasil Central, transcritas na grafia original, tal como ele as concebeu, sem correções ortográficas e gramaticais. Nos seus textos, as vezes ele não discerne fatos históricos e ficção, personagens fictícios e reais, mostra incoerência narrativa e comete equívocos históricos importantes. Aos nossos leitores cabe avaliar a qualidade dos textos e sua importância para a história de Paracatu.
Resgatamos, após minuciosas pesquisas, alguns escritos de Olympio Gonzaga que se encontravam desaparecidos, dentre eles, crônicas que escreveu para seu livro não publicado, Lendas do Brasil Central, transcritas na grafia original, tal como ele as concebeu, sem correções ortográficas e gramaticais. Nos seus textos, as vezes ele não discerne fatos históricos e ficção, personagens fictícios e reais, mostra incoerência narrativa e comete equívocos históricos importantes. Aos nossos leitores cabe avaliar a qualidade dos textos e sua importância para a história de Paracatu.
Crônica
(transcrição)
A
ruina completa do milionario Felisberto Caldeira
Brant, o descobridor de Paracatu (sic – grifo nosso); duelo, prisao
sequestro de seus bens, riquissimas baixelas de ouro, diamantes, etc.
Todos os membros da família CALDEIRA BRANT FOI EXPOLIADA DE SEUS
BENS E REDUSIDA À MISÉRIA.
A idade de Felisberto Caldeira Brandt |
Tenho
presente velhissimos documentos dos arquivos desta lendaria cidade,
sequestro dos bens do descobridor dr PARACATU (sic), Felisberto
Caldeira Brant, tendo estudado varias obras que lhe fasem
referencias: De Afonso Arinos, Feu de Carvalho, Rodrigo Octavio,
Diogo de Vasconcelos, Felicio dos Santos, Milliet de Saint Adolfe,
Xavier da Veiga e outros autores. Todos eles fasem notaveis
referencias das riquesas nababescas deste bandeirante milionario
Felisberto Caldeira Brant, que levou de PARACATU duzentas arrobas de
ouro, no ano de 1744.
Entretanto
encontrei valiosos documentos da descoberta de PARACATU no ano de
1730 por Lourenço Castanho, que deixou aqui um nucleo de povoadores.
Descobri tambem nos arquivos o sequestro dos bens de Felisberto, o
grande martir, vitima da invenja de suas imenças riquezas, deste
bandeirante que nasceu em São João Del Rei, tendo o sequestro se
estendido aos bens de todos os parentes de Felisberto.
Nos
sertoes de PARACATU a naturesa ainda sorria virgem e havia ouro em
abundancia por toda a parte, espalhadas pelo chão folhetos; pepitas
de ouro, que eram catadas em profusão nos leitos dos corregos: Sao
Domingos, Corrego Rico, Bandeirinha, Sao Pedro, etc.
Xavier
da Veiga nas Efemerides Mineiras nos conta que os capatases de
Felisberto Caldeira Brant fasiam diarias de desessete oitavas de
ouro.
No
ano de 1758 tambem foram sequestradas pelo SANTO OFICIO, por ordem do
governo, a fasenda do Espirito Santo, 18 escravos, 100 reses de
criar, lavras de ouro no Morro da Cruz das Almas e São Pedro, etc.
em Paracatu.
Felisberto
Caldeira Brant foi no Tijuco (Diamantina) o celebre CONTRATADOR DE
DIAMANTES, tornando-se o homem mais rico de Minas Geraes.
Foi
esta grande riquesa que atrahiu a inveja, a cobiça do ouvidor do
GOVERNADOR de Minas Geraes.
O
BOTÃO DA ROSA
A multidao de povo se achava
na capela do Tijuco assistindo a missa domingueira, bem como as
pessoas distintas do logar.
A bela Cotinha, sobrinha de
Felisberto Caldeira Brant, estava ajoelhada, resando, talvez pensando
em seu noivo, um bacharel fidalgo portuguez, foi quando o Ouvidor do
Tijuco Dr. José de Moraes Bacelar veio se ajoelhar junto dela,
lançando olhares ardentes e cubiças; como a moça Cotinha não lhe
correspondesse os seus afetos de amor, o Ouvidor Bacelar atirou um
botão de rosa no seio de Cotinha, que se enrubesceu, levantou-se e
foi levar a flor a seu pai adotivo de criaçao, Felisberto Caldeira
Brant, que tirou a espada da bainha e foi convidar o atrevido o
Ouvidor dr. José de Moraes Bacelar para um duelo à porta do templo.
Grande alvoroço na egreja entre o povo e as biatas de caponas, (Nos
conta com muita graça Afonso Arinos em seu livro O CONTRATADOR DE
DIAMANTES)...aqui há um trecho ilegível.
O padre sahiu do altar com a
imagem de JESUS CHRISTO E separou os dois contentores, que foram
levados para suas casas. Desde este dia que o Ouvidor Bacelar
escreveu ao Governador de Minas Geraes o Conde de Bobadela Gomes
Freire de Andrade, urdindo tremendas intrigas contra Felisberto,
convidando-o para avançarem no gordo sequestro dos bens do
Contratador dos Diamantes, (com?) a ajuda do SANTO OFICIO.
Naqueles tempos de horrores,
de falta de garantias individuaes, durante o regimem Colonial, era a
cousa mais natural deste mundo o sequestro, a prisao, as torturas das
pessoas ricas por qualquer rabo de palha, inventado, urdido
propositalmente. Foi assim que os magnatas se enriqueceram, e puderam
remeter mais de cinco mil crusados do Brasil para Portugal, o
senhorio que não tinha dó nem piedade de nos, para se enriquecer à
nossa custa.
A
PRISÃO, O SEQUESTRO, A RUINA DE FELISBERTO CALDEIRA BRANT
Dias depois do acontecido na
capela do Tijuco, foi anunciada com trombeta e caixa a visita do
GOVERNADOR DE MINAS GERAES, cuja sede era em VILA RICA.
O perverso Ouvidor Dr. José
de Moraes Bacelar, sahiu dois dias antes e foi se encontrar com o
GOVERNADOR, os quais urdiram os planos de assalto à fortuna de
Felisberto, o CONTRATADOR DE DIAMANTES DO TIJUCO; que no dia aprasado
seguiu com sua gente numerosa em bonitos corceís lindamente
ajaesados, sendo a de Felisberto em ouro e prata. Depois das
saudaçoes das Boas Vindas, Felisberto emparelhou seu cavalo de sua
montaria com as montarias do Governador e do Ouvidor Bacelar, que
franziu os sobrolhos com odio e disse: PASSE PARA TRAZ, aqui não é
seu logar.
O milionario Felisberto
Caldeira Brant, que estava acostumado ocupar sempre o primeiro logar
nas cerimonias, --Replicou: batendo no peito, eu sou descendente dos
Ordonheses de Zamora, de Familia Real e Vosse que é um simples
plebeu, que passe.
O GOVERNADOR replicou dizendo:
PRENDA ESTE INSOLENTE.
Felisberto foi preso,
algeimado e levado para Vila Rica. O pagem de Felisberto jogou seu
cavalo por fora correndo e foi contar a esposa de Felisberto dona
Branca de Almeida Lara o acontecido.
No mesmo dia a casa de
Felisberto foi cercada, dona Branca enxotada de seu riquissimo lar,
foi expoliada de seus bens, baixelas de ouro para jantar, para café,
mobiliario riquissimo, arcas cheias de ouro, de diamantes, uma
riquesa fabulosa, extraordinaria; o perverso Ouvidor Bacelar
esfregava as mãos de contente.
A casa estava cercada,
garantida, os Meirinhos arrolavam tudo, sem deixar nada. Todos os
irmaos e parentes da Familia Caldeira Brant sofreram o terrivel
sequestro de seus bens, por ordem do Governador Conde de Bobadela. Um
ano depois foi o sequestro já descrito em Paracatu.
Quem melhor discreve esta sena
barbara é o escritor patricio Afonso Arinos no seu belo livro: “O
CONTRATADOR DE DIAMANTES”, que foi convertido em drama, que foi
levado à sena com grandes aplausos, bem como a sena em que Dona
Branca atira ao GOVERNADOR suas joias, dizendo: TOME TOME vosses
querem é roubar.
Fonte: Afonso Arinos na intimidade, crônicas - Biblioteca nacional do Brasil, divisão de manuscritos.
Fonte: Afonso Arinos na intimidade, crônicas - Biblioteca nacional do Brasil, divisão de manuscritos.
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