Pular para o conteúdo principal

GENEALOGIA E HISTÓRIA A CONTA-GOTAS - JOSÉ RODRIGUES FRÓES

Por José Aluísio Botelho
Aplicação Sacerdotal (habilitação de genere et moribus) do descobridor das minas de Paracatu Guarda-mor José Rodrigues Fróes.

Os processos de ordenações sacerdotais são documentos importantes como fontes de pesquisas genealógicas e históricas, notadamente para a história social. 
No caso concreto, o processo de ordenação do descobridor das minas de ouro no córrego de São Luiz e Santana (córrego Rico) e fundador do arraial do mesmo nome é emblemático, porque sugere o motivo ou motivos conjugados que o levaram a abandonar definitivamente o lugar.
Que o guarda-mor José Rodrigues Fróes foi o legítimo descobridor das minas de Paracatu, não restam dúvidas, comprovado por documentos publicados nesse blog.
O que ainda é controverso é a sua saída precoce do nascente arraial que se desenvolvia rapidamente em torno do núcleo minerador, e quando a extração de ouro estava no seu auge.
Especula-se que dois motivos o levaram a ir embora de lá, onde ele pontificava como um dos potentados na nascente povoação: o primeiro motivo foi a frustração pela baixa produtividade das datas minerais escolhidas por ele por direito, por ter sido o descobridor; o segundo motivo, seria o descaso da coroa portuguesa, não atendendo aos seus pleitos no sentido de obter o direito de exploração de tabelionatos no arraial; decepcionado, teria ele resolvido se afastar rumo ao distrito diamantino, cuja sede era o arraial do Tejuco (hoje Diamantina). 
Embora existam documentos que mostram sua presença na região de diamantes, especialmente, no início da década de 1750, bem como no ano de sua provável morte, 1780, parece que a tese não é totalmente correta quanto ao roteiro, ou seja, antes ele teria retornado para sua terra natal, Mogi das Cruzes, entre os anos de 1748 e 1750.
Encontramos um documento que reforça essa hipótese de retorno à terra natal: trata-se de um processo de aplicação sacerdotal (De Genere et Moribus), existente na Cúria Metropolitana de São Paulo, em que ele manifesta seu desejo de tornar-se servo de Deus. Pois bem, em 1747, ele entra com um requerimento junto a Matriz de Mogi das Cruzes, solicitando sua habilitação "as Ordens para melhor servir a Deus", e declara ser assistente (morador) nas minas do Paracatu.
A opção pela vida  sacerdotal, combinada com os outros motivos descritos acima, culminaram com sua ordenação, que deve ter ocorrido um ou dois anos depois; vale salientar que José Rodrigues Fróes já era um homem de meia idade (tinha 46 anos em 1747), solteiro, sem filhos e sem fortuna. Certamente, ele retornou ao sertões de Minas Gerais, mas não se sabe se ele exerceu o sacerdócio na sua plenitude. No tocante a genealogia, no corpo do processo também foi possível estabelecer a sua ascendência paterna em Portugal, o que até o presente, ainda era desconhecida.
 Infelizmente o documento está incompleto, e algumas das páginas disponíveis estão ilegíveis, o que impede de se saber a data de sua ordenação, bem como outras informações porventura importantes.
A título ilustrativo e de comprovação documental, publicamos imagens de algumas páginas que podem ser lidas com certa nitidez. 








Fonte:
FamilySearch.org - Brasil, São Paulo, Registros da Igreja Católica. São Paulo, Arquidiocese parte A, 1747.

Comentários

Postagens mais visitadas

DONA BEJA E AS DUAS MORTES DE MANOEL FERNANDES DE SAMPAIO

Por José Aluísio Botelho A história que contaremos é baseada em fatos, extraídos de um documento oficial relativo a um processo criminal que trata de um assassinato ocorrido na vila de Araxá em 1836. O crime repercutiu no parlamento do império no Rio de Janeiro, provocando debates acalorados entre os opositores do deputado e ex-ministro da justiça, cunhado do acusado, como se verá adiante. Muitos podem perguntar porque um blog especializado em genealogia paracatuense, está a publicar uma crônica fora do contexto? A publicação deste texto no blog se dá por dois motivos relevantes: primeiro, pela importância do documento, ora localizado, para a história de Araxá como contraponto a uma colossal obra de ficção sobre a personagem e o mito Dona Beja, que ultrapassou suas fronteiras se tornando de conhecimento nacional. Em segundo lugar, porque um dos protagonistas de toda a trama na vida real era natural de Paracatu, e, portanto, de interesse para a genealogia paracatuense, membr...

REIS CALÇADO - UMA FAMÍLIA JUDIA NA PARACATU DO SÉCULO XVIII

Por José Aluísio Botelho  Eduardo Rocha Mauro Cézar da Silv a Neiva   Família miscigenada, de origem cristã nova pela linha agnata originária do Ceará . Pois

GUARDA-MOR JOSÉ RODRIGUES FRÓES

Por José Aluísio Botelho             INTRODUÇÃO  Esse vulto que tamanho destaque merece na história de Paracatu e de  Minas Gerais, ainda precisa ser mais bem estudado. O que se sabe é que habilitou de genere em 1747 (o processo de Aplicação Sacerdotal se encontra arquivado na Arquidiocese de São Paulo), quando ainda era morador nas Minas do Paracatu, e embora fosse comum aos padres de seu tempo, aprece que não deixou descendentes*. Que ele foi o descobridor das minas do córrego Rico e fundador do primitivo arraial de São Luiz e Santana das Minas do Paracatu, não resta nenhuma dúvida. De suas narrativas deduz-se também, que decepcionado com a produtividade das datas minerais que ele escolheu, por direito, para explorar, abandonou sua criatura e acompanhou os irmãos Caldeira Brandt, que tinham assumido através de arrematação o 3º contrato de diamantes, rumo ao distrito diamantino. Documento de prova GENEALOGIA  Fróis/Fróes -...

SÉRIE - PIONEIROS DO ARRAIAL DO OURO 5 - FAMÍLIA SILVA NEIVA

Por José Aluísio Botelho Mauro César da Silva Neiva e Eduardo Rocha No lusco - fusco do arraial de São Luiz e Santana das Minas do  P aracatu, final do século dezoito, que em breve iria administrativamente  se transformar em Vila, passando a se chamar Vila do Paracatu do  Príncipe, dois irmãos, cuja procedência não se sabe, lá se estabeleceram. À época, a mineração se encontrava em franca decadência, e a alternativa era a agropecuária rudimentar, baseada em latifúndios. Portanto, os irmãos em questão, João Lourenço e Lourenço da Silva Neiva, adquiriram terras na fértil região do Pouso Alegre , onde edificaram fazendas de criação de gado, casaram e criaram os filhos, gerando troncos da importante e tradicional família Silva Neiva, que se espalhou pelos arredores e alhures. A naturalidade deles  é desconhecida, porém, tudo leva a crer serem de origem portuguesa. Casaram-se com duas irmãs, com descendência adiante: A – João Lourenço da Silva Neiva , falecido ao...

NOTAS GENEALÓGICAS - OS GAIA DE UNAÍ, MINAS GERAIS

POR JOSÉ ALUÍSIO BOTELHO (Mandado por Geralda Gislene Torres Gonçalves), com adaptações e acréscimos) Sobrenome toponímico originário de Vila Nova de Gaia, região metropolitana do Porto, Portugal. Por volta de 1845, na poeira do padre cônego Miguel Arcanjo Torres, nomeado vigário-geral da comarca de Paracatu, vieram Porfírio e Martinho Gaia, parentes, provavelmente oriundos de Santana de Ipanema, estado de Alagoas. 1 Capitão Porfírio Rodrigues Gaia, falecido por volta de 1909 em Unaí;foi casado com Flávia de Melo Franco, filha de Francisco de Melo Franco Bueno, falecido em 1844 aos 33 anos, e de Mariana Pimentel de Ulhoa (primeiro casamento desta). Filhos: 1.1 Manoel Rodrigues Gaia, falecido solteiro aos 27 anos de idade em 11/04/1896 na cidade de Palma, MG; normalista pela Escola Normal de Paracatu em fins de 1886, professor público, artista plástico por excelência;  1.2 João Gaia. Sobre ele disse Olímpio Gonzaga: João Gaia foi um andarilho pelo Brasil de seu tempo,...

PIONEIROS DO ARRAIAL DO OURO 22 - MENDES TEIXEIRA

Por José Aluísio Botelho e Eduardo Rocha Sobrenome originário do Concelho de Amarante, distrito do Porto. João Mendes Teixeira, da freguesia de Santa Maria de Fregim, casado em 13/04/1722 na igreja de São João Batista de Louredo, com Joana Teixeira, natural desta freguesia de